Sunday, September 03, 2006

Brigar com anões dá azar



A comunidade científica representa o status quo e, conseqüentemente, tem uma conotação Júpiter-Saturno, os dois planetas da ordem social e do poder institucionalizado. Ao "destituir" Plutão da condição de planeta, esta comunidade científica faz um movimento análogo ao dos dirigentes das grandes potências, que parecem empenhados num grande jogo de faz-de-conta: faz de conta que é possível lidar com o desatamento dos ódios religiosos e étnicos; faz de conta que os Estados Unidos não estão deixando pouco a pouco de ser uma democracia; faz de conta que as calotas polares não estão derretendo e que será possível manter o crescimento econômico para sempre; faz de conta que não há riscos de um conflito nuclear.
Ao diminuir a importância de tudo que está além de Netuno - o que inclui não apenas Plutão, mas também os significados de Xena, Sedna e Quaoar - o mundo desenvolvido, analogicamente, tenta varrer para debaixo do tapete toda uma série de problemas que ainda aguardam uma resposta: lidar com a alteridade e com paradigmas civilizatórios diversos dos nossos (Xena), enfrentar a perda da sustentabilidade ambiental (Sedna), a irracionalidade do terrorismo (Quaoar) e o risco da destruição em massa (Plutão).
Tal como os antigos gregos, romanos e bizantinos, que dividiam o mundo entre "nós" e os "bárbaros", a nova classificação dos corpos celestes também cria um território percebido como de segunda classe. Em contraposição aos planetas "clássicos" (que agora incluem Urano e Netuno, além dos sete visíveis), existem agora os planetas "bárbaros", os invisíveis, os anões, que vivem num território escuro e hostil, além das fronteiras da civilização. Mais uma vez, sob a capa da cientificidade, o homem reelabora sua noção de céu, projetando no espaço as grandes divisões que o atormentam.

texto completo

Plutão surgiu no signo de Câncer. Os escorpiões são primos das lulas, lagostas e caranguejos... Saíram do mar há 400 milhões de anos e adaptaram-se à vida na terra, diminuindo de quase dois metros para 20cm de tamanho. Resistiram a tudo, sobreviveram à desaparição dos dinossauros, às glaciações e possivelmnte resistiriam até à radioatividade.

Portanto nada mais saudável e estimulante para Plutão do que ser desclassificado pelo sistema, marginalizado, maldito, vomitado e rebaixado...assim só o estarão elevando.
daqui



O que esse discurso dos astrônomos e esse critério "científico" de reclassificação de Plutão revelam implicitamente? Podemos interpretar que estamos negando e afastando "aquele" que não se enquadra na normose de orbitar ao redor do todo poderoso poder central.
mais

um planeta é, em boa medida, aquilo que queremos que ele seja. Em outras palavras: determinados significados associados aos corpos celestes só emergem quando o ambiente cultural de uma dada época está maduro para admitir aqueles significados.
[...]
Descobertas de corpos celestes costumam coincidir com a ampliação dos horizontes civilizatórios, como se cada novo planeta representasse a emergência de um novo processo na consciência humana. (...) Considerando que os novos corpos celestes sempre expressam desafios emergentes, basta observar o que vai pelo mundo no momento em que [um novo corpo celeste] se revelou aos astrônomos.
artigo

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