Friday, February 26, 2010

olhar e arte




a dica, encontrei na cora. as imagens, sao fabulosas e recomenda-se a visita.

Thursday, February 25, 2010

"a escravatura nunca acabou"

Achei o texto perfeito por tocar em várias vertentes - e falar tambem do que está a ser feito - de um flagelo que continua longe de ser resolvido. O texto parcialmente reproduzido abaixo é da autoria de Claudia Pedra, investigadora, e vem publicado num jornal oje de Fevereiro.

[...] segundo dados da onu, cerca de 2,5 milhoes de pessoas são traficadas todos anos. Como todas as actividades de crime organizado transnacional, as estimativas são o que são, e a realidade será bem diferente. Aliás, muitos estimam que sejam cerca de 200 milhões de pessoas que diariamente são obrigadas a vender o seu corpo - prostituindo-o ou forçando-o a trabalhar em condições desumanas. Por detrás de tudo isto está um negócio muito rentável. O tráfico de seres humanos está a par do tráfico de drogas e armas, integrando o conjunto dos negócios mais lucrativos do mundo. Pessoas são vendidas por valores irrisórios como 20 euros e revendidas por centenas ou milhares de euros. Os traficantes são astutos; usam não só o rapto, mas o engano, o aliciamento, para conseguir as suas vítimas. Procuram homens, mulheres e crianças. Procuram-nas para exploração sexual ou laboral, para adopção ou para se servirem dos seus órgãos. Procuram-nas em todos os cantos do mundo.
[...] em Portugal [...] os números do Observatório de Tráfico indicam 138 vítimas sinalizadas em 2008, mas tal só inclui os casos que tinham Portugal como destino e foram oficialmente tratados pelas autoridades. [...] O Departamento de Estado Norte-americano falava em 5000, em 2007. Mas quais são os números reais? Em que locais estão as vítimas? Quais as actividades que são forçadas a fazer?
Para chegar a uma estimativa mais realista e a uma melhor compreensão do problema, foi lançado pelo Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais em Novembro de 2009, um projecto de investigação sobre o tráfico de seres humanos, destinado a aprofundar o conhecimento sobre o tráfico em Portugal -como país de origem, trânsito e destino - compreender a percepção pública do fenómeno e trazer esta problemática para a agenda pública. O projecto pretende trazer as melhores práticas a nivel internacional para o nosso país, e a trabalhar transversalmente todos os sectores da sociedade, não só para reforçar a eficácia no combate ao tráfico, mas para melhorar a assistência às vítimas, promovendo a sua valorização e integração.
Na verdade a escravatura nunca acabou. [...] Ilegalizada ou não, milhões de pessoas continuam a ser arrancadas da sua família, ameaçadas de morte, espancadas, aprisionadas. Todos os anos. Todos os dias.

Wednesday, February 10, 2010

Uma alta aposta

Ensaio sobre a cegueira, obra do escritor português e ganhador do Prêmio Nobel José Saramago, tem a marca do signo solar de seu autor.
[...]
Ensaio sobre a cegueira é a história de uma epidemia que surge inexplicavelmente e rapta a visão das pessoas. Ao contrário da escuridão, os doentes vêem uma luz branca. O mal se alastra rapidamente e as autoridades decidem colocar os doentes em quarentena. Os direitos e as necessidades humanas são esquecidos, demonstrando a absoluta incompetência do Estado para lidar com uma crise deste porte. Isolados, os cegos, que a cada dia tornam-se um contingente maior de pessoas, lutam para satisfazer suas necessidades básicas e para manter a dignidade. Apenas uma personagem confinada não está cega: a mulher do médico, interpretada no filme pela atriz norte-americana Juliane Moore.
A despeito dos detalhes do enredo, basta relacionar os temas envolvidos para que se faça a associação astrológica: o poder estabelecido que esmaga a individualidade por causa do seu radicalismo, a prática de confinar os cegos, que mais parece um sequestro, a necessidade de auto-preservação a qualquer custo, a força dos instintos, como o de sobrevivência e o sexual, e o indivíduo diante de uma situação-limite. A história envolve o leitor e o espectador, transmitindo a podridão do ambiente em que se passa. A sujeira que vai tomando conta do local onde os cegos estão confinados é perceptível a eles pelo odor insuportável e pelo tato. É o apodrecimento, simbolizado pelas águas turvas de Escorpião. A absurda situação em que estas pessoas se encontram vai abalando a estrutura psicológica de todos. A personagem da mulher do médico destaca-se na história por ter uma resistência, física e psicológica, típica dos escorpianos. Além disso, ela demonstra outra habilidade deste signo ao guardar um segredo, o de ser a única a enxergar, e de saber usá-lo na hora certa. A mulher do médico não só é capaz de matar alguém como o faz, pois tem sangue-frio suficiente e, em determinado momento da trama, percebe que não há outra saída.
[...]
Uma das passagens mais tensas do livro tornou-se uma das cenas mais polêmicas do filme Blindness. Trata-se de um estupro coletivo. O diretor Fernando Meirelles reduziu o tamanho da cena, após realizar testes com o público e perceber que seu impacto era tão grande que colocava as pessoas contra o filme. A abordagem direta da sexualidade, em seus aspectos mais ou menos nobres, está ligada a Escorpião, o signo do desejo.

O filme Blindness exigiu muito de todos os envolvidos em sua realização. Do escritor, Saramago, foi necessário desprendimento suficiente para suportar ver sua criação transposta à linguagem cinematográfica, o que não é pouco. “Cinema destrói a imaginação” teria dito ele, anos antes. Do diretor Fernando Meirelles, exigiu uma aposta bastante alta, ao adaptar uma obra aparentemente inadaptável, devido ao caráter marcante da escrita de Saramago e que é o livro preferido de muitos dos seus leitores. Meirelles ainda precisou encarar os protestos de associações em defesa dos direitos dos cegos, que o acusaram de retratá-los como monstros.
[...]

“Ensaio sobre a cegueira”, assim como o signo de Escorpião, é uma obra que não passa despercebida, por sua intensidade e impacto.

todo o texto: na Constelar de Fevereiro

Saturday, February 06, 2010

Forever Young! :-)



Forever young não na idade do corpo mas no tónus da alma...
8-)

Concordo!... plenamente!


[...]
a ideia de esoterismo não se limita apenas à ideia primária de bruxedos e mézinhas. [...] o conceito de esoterismo é muito mais abrangente do que isso: expressa as interrelações mais ocultas do microcosmo humano com o macrocosmo do universo, sim, mas também privelegia o lado espiritual do ser humano, muitas vezes esquecido, desprezado ou até encarado como coisa arcaica, supersticiosa e até sinónimo de pouca cultura.

E, no entanto, o espírito e a mente são a maior riqueza que o ser humano possui, sobretudo por suas vertentes mais misteriosas, mais ocultas, mais esotéricas, mais simbólicas.
[...]
Tenta-se criar um conceito diferente e mais alargado, procurando contrariar a tendência globalizante de tudo reduzir ao corpo, aos interesses materiais, ao minimalismo de uma religião única, ao comodismo das ideias aceites e à tendência de nivelar por baixo a riqueza e diversidade do espírito e da mente
[...]
Precisamos de ver mais além do que os nossos sentidos o permitem, precisamos de embarcar em novas viagens de descoberta de novos mundos, mas desta vez, por outros tipos de mares.

Porque estamos certos de que há coisas extraordinárias, não há?
*

(Excerto de palavras de apresentação de um centro de alternativas holísticas, em Lisboa)

Tuesday, February 02, 2010

As palavras dos outros -e que eu concordo

"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo"

(Álvaro de Campos, Poema em Linha Recta)


É fácil chegar à rua para por lá ficar. Costuma dizer-se: cair na rua. [..] Não imaginam a facilidade com que as paredes se desfazem. Não são só os drogados, os alcoólicos, enfim, os viciados. Há tantos vícios dentro de portas. [...]

Outra vezes fugimos para a rua para não enlouquecer de desalento.

[...] os casos ditos mais difíceis, resistentes às assistentes sociais, aos lares, aos "projectos de vida", à chamada "reintegração". Estúpida palavra, absurda, cheia de gelo e fealdade -reintegração. Todos os reintegradores acabaram um dia, não muito longe, reintegrados na terra. Ou no fogo.
[...]
Para desgosto dos altos desígnios do turismo nacional os que vivem na rua gostam de lugares bonios. Gostam do Terreiro do Paço, por exemplo. Um desassossego.. Tirem-nos daqui! Tirem-nos daqui! Bradava à meses uma figura de efémero poder agoniada. Enxotam-nos e eles voltam, como gaivotas, para a beira do rio.
[..]
Há apaixonados que encontram na rua a casa que não podem ter.
[..] as equipas de rua conhecem bem cada uma destas pessoas.
E um trabalho lento, doloroso, discreto, contínuo, sem a visibilidade pimpona das obras de cimento.
Sem-abrigo somos todos nós e muito mais os que vivem sobre o tecto do êxito obrigatório.

(exertos da crónica de Inês Pedrosa -Viver na Rua)

reflexões de uma pausa para café



Ao meu lado no café de um espaço de compras, uma senhora comentava para outra:
-mas é que eles não são como nós... Não acreditam em Deus nem nada.

-Ah!... -manifestou-se a outra, aparentemente estarrecida.

-É verdade! -a pessoa não cabia em sí de felicidade por estar a provocar um efeito de espanto na interlocutora e a aumentar o seu conhecimento do mundo. Fez uma careta e confidenciou: -São como os indianos: o Deus deles é um bicho e só querem é divertir-se!

Olhou a volta triunfante. As poucas pessoas presentes estavam muito absorvidas com os seus cafés e ninguem parecia especialmente interessado.

Enquanto eu me afastava rápidamente com a imagem de Ganesh na cabeça (ou o deus-bicho aludido seria outro, talvez Hanuman?) não pude deixar de pensar se alguma deusa poderosa de mil braços achará valer a pena alguma vez exterminar a estupidez e intolerância inerentes ao ser humano.