Tuesday, May 11, 2010

virgens negras

os textos abaixo e muitos outros em
http://sitioremanso.multiply.com/
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As Virgens Negras são registros valiosos de uma época em que a Terra era reverenciada como Mãe e todas as criaturas eram Seus filhos. Diferentes das Virgens Brancas - que personificam dogmas e virtudes cristãos de obediência e resignação-, as Negras têm em comum as qualidades telúricas e sua localização em sítios arqueológicos que comprovaram a existência de deusas pré-cristãs.Tradições religiosas antigas – como a gnóstica, hebraica e cristã –contém elementos da mitologia e iconografia das deusas asiáticas, sumérias, egípcias e européias, guardando a sua associação com luz e sabedoria, mas desprovidas da unidade primordial entre céu e Terra. Inúmeras das imagens e estátuas destas deusas são negras, cor que evoca o mistério impenetrável da Fonte Criadora. Ísis e Shekina são cobertas por mantos ou véus pretos, Cibele era venerada como um bloco de pedra preta, Deméter e Athena tinham versões escuras e a belíssima e tocante estátua de Ártemis de Éfeso, a Mãe dos mil seios, era negra.

Nos primórdios do cristianismo o princípio feminino era representado por Virgens Negras e Brancas e por uma multidão de santas, todas brancas, com exceção de Sara, a Egípcia, padroeira dos ciganos. À medida da expansão e do fortalecimento da religião cristã, as estátuas de mármore e bronze das deusas pré-cristãs foram destruídas, seu culto perseguido e proibido. Porém, em lugares remotos dos países cristianizados, fieis dos antigos cultos preservaram seus ídolos domésticos e pequenas estátuas, escondendo-os nas grutas e fendas da terra, em criptas dos templos antigos, perto de fontes e rios e no oco das árvores. Alguns foram encontrados na proximidade dos centros religiosos dos cátaros e templários e nos lugares onde foi preservado o culto da Mãe Divina e de Maria Madalena. Em todos estes locais “apareceram” posteriormente e de maneira milagrosa imagens das Virgens Negras, encontradas por pessoas humildes, animais ou crianças. Muitas delas foram perdidas ou destruídas por fanáticos e guerras, enquanto sua verdadeira origem e significado estavam sendo esquecidas.

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A partir do século X o culto das Mães negras se intensificou de tal forma que ultrapassou o do Pai e Seu Filho. Reis, guerreiros, camponeses, mulheres, doentes e peregrinos se ajoelhavam juntos perante as imagens das Virgens milagrosas nas inúmeras igrejas e grutas a Elas dedicadas nos países europeus, orando, fazendo seus pedidos e deixando votos e contribuições. Milagres e aparições aconteciam com freqüência, principalmente curas de mulheres, enfermos e crianças.A Virgem Negra tornou-se motivo predominante na literatura mística e alquímica dos séculos XII e XIII e o impulso para a construção de inúmeras catedrais, igrejas e permanentes romarias.

As tentativas da igreja cristã para explicar a cor negra das estátuas eram equivocadas e sem fundamento, alegando escurecimento pela fumaça das velas ou reações químicas dos pigmentos das tintas. Era necessário ocultar e distorcer o verdadeiro significado da cor preta, atributo milenar da terra, do inconsciente, da fase escura da Lua, do poder misterioso e sagrado da mulher, da sabedoria ancestral que aceitava a morte seguida pelo renascimento, assim com o dia segue à noite. O culto da Virgem Negra representava a perpetuação do princípio feminino em uma cultura e religião patriarcal e misógina e por isso devia ser abolido ou desacreditado. Apesar da oposição dos teólogos cristãos, da perseguição pela Inquisição, da destruição de inúmeras imagens pelos protestantes, revoluções, guerras e reformas políticas, do “disfarce” tingindo as estátuas de branco, o fenômeno complexo e multifacetado das Virgens Negras persistiu ao longo dos séculos. As fogueiras da Inquisição foram seguidas pela frieza da Era da Razão e do materialismo científico, que antagonizava tudo o que era relacionado ao princípio feminino.

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Apesar da diversidade de aparências, origens e antiguidade, as Virgens Negras evocam as memórias ancestrais do culto da Grande Mãe, fonte de vida e regente de todas as suas fases, do nascimento à morte e regeneração. Elas são a continuação - sob uma nova denominação e na nova religião - da reverência ancestral ao sagrado poder feminino. Autênticas ou réplicas modernas das antigas estátuas, as Virgens Negras evocam a sua origem ctônica, aquática e vegetal e as memórias ancestrais da Mãe Terra, pois a sua antiguidade supera a das religiões e civilizações. Elas têm um intenso poder de cura e transformação, pois as Virgens Negras possuem o antigo axé das deusas telúricas, Senhoras da vida, morte e regeneração.

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(continua em

http://sitioremanso.multiply.com/journal/item/70)



(textos de Mirella Faur)

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A queda de Creta marcou o fim da pacífica era matrifocal; em toda a Europa, a sociedade, dominada pelos homens, tornou-se hierárquica e belicosa, os cultos e a simbologia da Deusa foram relegados ao ostracismo e, paulatinamente, ao esquecimento. Os princípios masculino e feminino – anteriormente pólos complementares da mesma unidade – foram separados e colocados em lados opostos. Enalteceu-se o Pai, renegou-se a Mãe: em nome do Pai, foram cometidos crimes inimagináveis que vitimaram, por séculos, as mulheres declaradas “seres inferiores, sem alma e perpetuadoras do pecado original” (15). O nome de Deus foi utilizado para creditar e justificar o código patriarcal e a inferiorização da Terra e das mulheres. Culparam-se as mulheres para que seu poder (espiritual, ancestral) fosse roubado e, assim, fosse consolidada a supremacia patriarcal. Os antigos símbolos da Deusa – os rituais para a fertilização da terra e a capacidade geradora, curadora e profética da mulher – foram demonizados. Pela sistemática inferiorização e perseguição da mulher, o patriarcado procurava apagar e denegrir os valores e os cultos da Grande Mãe: a serpente, símbolo sagrado da Deusa que representava a renovação e a transmutação, foi demonizada; o simbolismo da árvore da vida foi distorcido; a importância da sexualidade e da relação igualitária homem-mulher foi renegada. A mulher foi declarada responsável pelos males do mundo, um ser maldito, inferior, destinada a sofrer e ser dominada pelo homem. Ao passo que, na era matriarcal, comer da Árvore da vida significava adquirir sabedoria, a Bíblia cristã considerou este ato pecado mortal e substituiu a Árvore pela cruz do sofrimento. O amor sagrado (divino e humano) foi substituído pelo matrimônio – muitas vezes imposto ou forçado-, fundamentado no domínio masculino, na preservação do patrimônio e na obediência feminina. (16)

Pela desconstrução e deturpação dos milenares conceitos matriarcais, pautados na paz, na prosperidade e na parceria igualitária, a era patriarcal de dominação e conquista – de outros homens, de mulheres e da própria natureza – foi legitimada. Os homens – como gênero – não foram os únicos responsáveis pela violência a eles atribuída, mas a maneira pela qual a identidade masculina foi criada e reforçada pelos conceitos e comportamentos de “heróis” e “super homens” (14) – fundamentados em seus “direitos divinos”, outorgados inicialmente pelos deuses guerreiros e depois pela interpretação tendenciosa dos preceitos bíblicos. Ao negar e anular a energia feminina (divina e humana), o patriarcado criou uma cultura destrutiva e exclusiva, centrada predominantemente na violência e na aniquilação, voltada para a morte e não para a vida. O atual desequilíbrio global não foi criado, nem está sendo mantido ou sustentado por mulheres: em todas as tradições femininas, a guerra e a violência eram inaceitáveis, por serem contra o dom da vida conferido pela Grande Mãe à humanidade, que se encontra oculto no ventre das mulheres

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o texto completo:

http://sitioremanso.multiply.com/journal


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