Monday, June 13, 2011

Uma boa questão: Respeitar e Matar?!



O criador do Facebook, Mark Zuckerberg, tem causado agitação nos últimos dias, depois de anunciar que só come animais que ele próprio mata. No dia 4 de Maio, publicou uma nota privada para os seus amigos no Facebook: “Acabei de matar um porco e uma cabra.”. Mais tarde, enviou à Fortune uma nota a explicar o que lhe vai na alma, onde se destaca o seguinte:
«Este ano, o meu desafio pessoal centra-se em dar graças pela comida que tenho para comer. Acho que muitas pessoas se esquecem de que um ser vivo tem de morrer para que tu comas carne, por isso, o meu objectivo centra-se em não me esquecer disso e dar graças pelo que tenho. Este ano, tornei-me praticamente vegetariano, pois a única carne que como é de animais que eu próprio matei.»

Muitos têm criticado e até insultado ferozmente o Mark, como se ele estivesse a fazer alguma coisa pior do que aquilo que a esmagadora maioria da população faz, que compra alegremente carne, peixe, leite, queijo e ovos no supermercado, pagando a outros para fazerem o “trabalho sujo”. Mas a verdade é que é tão responsável o autor material (quem explora e mata os animais) como o autor moral (que paga para que isso aconteça). O Mark está simplesmente a cortar o intermediário.

E, afinal, isto é bom ou é mau? Bem, poderia ser bom, se não fosse mau. Poderia ser bom se o Mark, ao invés de considerar que a satisfação do seu paladar é justificação suficiente para matar, tivesse conseguido sentir empatia pelos outros animais e perceber que eles não existem para nos servir. Na atitude dele, não há nenhum respeito. Não importa se agradecemos ao animal antes de o degolar, não importa se fazemos uma oração pelo animal que vamos comer. O mínimo que o respeito exige é que não tratemos os outros como coisas que servem exclusivamente para nosso benefício. Como é possível respeitar alguém se mata por nenhum motivo que não a satisfação do nosso paladar

Quando confrontada com a exploração animal, a maioria das pessoas gosta de romantizar a vida dos animais. As pessoas imaginam uma quinta ideal onde os animais são acarinhados e vivem muito felizes. Imaginam que as vacas leiteiras passam os dias a pastar em prados verdejantes e que correm contentes para serem as primeiras a ser ordenhadas. Imaginam que as galinhas se ocupam a esgravatar na terra e que oferecem alegremente os seus ovos aos humanos. Imaginam que os porcos passam o dia a comer bolotas e que se divertem a brincar na lama.

Mas a verdade é que 99,9% dos animais criados para consumo têm vidas miseráveis. Vidas marcadas pelo confinamento, pela mutilação, pela manipulação sexual e pela constante privação e frustração dos seus instintos naturais. Claro que é possível criar animais em condições próximas das condições ideais de bem-estar. Só há um problema: por melhores que sejam as condições que alguém dá aos animais que cria para consumo, o destino deles está marcado à nascença. E esse destino é a faca. E, por melhor que se trate um animal, por mais carinho que se lhe dê, nada disso branqueia a violência do acto de matar.

Não é por acaso que matar um humano é o crime punido com pena mais elevada no código penal. Quando se acaba com a vida de alguém, acaba-se com todo o mundo desse alguém. E os outros animais são alguém que estão neste mundo tal como nós. Tal como nós, os outros animais podem sofrer ou alegrar-se, sentir medo ou solidão, sentir frustração ou satisfação. Tal como nós, os outros animais têm percepção do mundo que os rodeia e têm consciência daquilo que lhes acontece. Tal como nós, eles têm interesse em viver a vida deles e não querem morrer.

Que tacanhez mostramos, afinal, quando nos julgamos tão superiores a todos os outros animais ao ponto de pormos e dispormos das vidas deles a nosso bel-prazer.

Respeitar e matar: definitivamente, duas palavras que não se conjugam.



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Óptima questão, levantada no mudaomundo, com um bom nível de comentários que vale a pena ler na íntegra
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-Mas se eu comer ovos não estou a fazer mal a nenhum animal...
Engano seu, minha distraída/o amiga/o.
Produtos animais sem crueldade são uma realidade difícil de encontrar...
Menos ainda quando, as questões de rentabilidade económica vêm antes de qualquer outra. 
E, fala sério, vêm sempre, não é?


As Galinhas, os Pintainhos e os Ovos *



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