Sunday, June 29, 2008

uma lenta e ainda muito parcial descoberta do infinito em nós...

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Reza a tradição que no pórtico do santuário grego da ilha de Delfos, templo sagrado onde os mortais eram recebidos para conhecer os vaticínios do deus Hélios (ou Apolo, para os romanos) liam-se duas frases: "Conhece-te a ti mesmo" e "Nada em excesso".
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Nelas, estampava-se a eterna questão que sempre desafia: "quem sou eu?". Pois da resposta a esta pergunta inúmeras outras se seguem: o que posso fazer de mim mesmo? como me equilibrar melhor? o que, na verdade, desejo para mim? de que tipo de pessoa preciso? como me oferecer melhor a alguém? que futuro está em minhas mãos construir, para mim e para os meus? E assim por diante, pois tais indagações desafiaram homens e mulheres em todas as épocas.
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A psique humana, sede do todo - Em todos os momentos da história humana cogitou-se sobre este aparentemente estranho componente humano que é a psique.
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O início da moderna Psicologia repousa sobre o trabalho pioneiro do alemão Wilhelm Wundt (1832-1920).
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Mas não era apenas na cidade alemã de Leipzig que a Psicologia moderna era gestada: por toda a Europa o assunto fervia! Em 1874, Franz Brentano (1838-1917), ex-sacerdote e professor de Filosofia em Viena, lançava A psicologia do ponto de vista empírico, obra na qual sustentava a idéia de ser um erro acreditar que a Psicologia fosse exclusivamente fisiológica (tendo sido professor de Freud, Brentano deixaria neste uma profunda impressão, ajudando mais tarde a compor o cenário inicial de desenvolvimento da psicanálise).
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Ao mesmo tempo, Hermann Ebbinghaus (1850-1909), professor em Berlim e Breslau, desenvolvia os primeiros testes de inteligência de que se tem notícia, o inglês James Ward (1843-1925) fundava na Universidade de Cambridge um laboratório de Psicologia Experimental, publicando seu primeiro artigo em 1886 na Enciclopaedia Britannica, e seu conterrâneo William McDougall (1871-1938) estudava os sentimentos e os instintos humanos, interessando-se principalmente por características emocionais adquiridas e transmitidas geneticamente (uma noção só pesquisada de forma mais profunda no correr do Século XX).
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...a psicanálise influiu poderosamente em inúmeros outros campos de conhecimento e o gênio que concebeu seus princípios fundamentais foi o médico neurologista tcheco Sigmund Freud. (*)
Em Viena, Áustria, ele iniciara sua carreira profissional como neurologista clínico, mas fizera alguns cursos sobre Psiquiatria e tivera assim aumentado seu interesse pela relação entre problemas orgânicos e sintomas mentais; desta forma, em 1885, graças a uma bolsa de estudos, tornou-se aluno de Jean Martin Charcot (1825-1893), chefe da clínica neurológica no hospício feminino parisiense de La Salpêtrière; ali, Freud consolidou a hipótese que os distúrbios emocionais tinham causa no próprio psiquismo e não na esfera do corpo (contra a Psiquiatria da época, dominada pela idéia organicista de que os sintomas psiquiátricos eram causados por problemas cerebrais, de ordem neurológica).
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Mas em 1912, o que no início parecia vir a ser um prolongamento da psicanálise mostrou-se o surgimento de uma nova escola de pensamento psicológico, ela também, por sua vez, uma mescla de teoria de personalidade, de filosofia sobre a natureza humana e de um conjunto de técnicas de atendimento psicoterapêutico: a Psicologia Analítica, escola fundada pelo médico psiquiatra suíço Carl Gustav Jung.
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Jung comprovou que os seres humanos herdam, junto com suas características físicas, dados de memória emocional, especialmente as emoções derivadas de experiências comuns a todas as pessoas desde o surgimento da espécie humana na face da Terra; a partir deste conceito pôde-se entender então a ocorrência de temas extremamente análogos na mitologia e nas lendas populares mais diferentes: seriam variadas manifestações dos arquétipos, termo que Jung utilizou para definir as "estruturas psíquicas de base" que fazem parte do inconsciente da espécie humana e não apenas de uma pessoa ou de um conjunto específico de pessoas (quer agrupadas por raças, culturas ou sociedades).
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WILLIAM JAMES, UMA ABERTURA PARA O ESPIRITUAL
Isto foi fundamental para que a Psicologia, liberta das correntes que a aprisionavam a outros campos de conhecimento científico, pudesse retomar sua verdadeira origem: o estudo da consciência e das funções mentais e emocionais como elo de ligação entre a pessoa e o mundo que a cerca e entre a psique da pessoa e seus outros componentes internos. É que à medida que a Psicologia viera se envolvendo mais e mais com a psicanálise - que oferece a possibilidade de um entendimento racional do que se passa no psiquismo humano - e com o Behaviourismo - que permite uma descrição milimétrica de como é o que acontece no comportamento humano -, deixou-se na obscuridão a pioneira obra do norte-americano William James (1842-1910), desenvolvida na viragem do século passado.
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Escreveu sobre todos os aspectos da psicologia humana, do funcionamento cerebral ao êxtase religioso, da percepção espacial à mediunidade psíquica; considerando que a Psicologia não era ainda uma ciência madura, com conhecimento suficiente para elaborar leis consistentes sobre as percepções, as sensações ou a natureza essencial da consciência, ele não via problema algum em formular conceitos que por vezes contradissessem a si mesmo. Mas o mais rico no pensamento de William James não foi a multiplicidade de opiniões de que ele era capaz ou a impressionante erudição que detinha, nem o fato de talvez ter sido o primeiro a se antecipar à psicanálise ao afirmar que bloqueios da energia emocional poderiam conduzir à "enfermidade emocional" (como naquele tempo se dizia): o mais rico foi sua teorização de formas diferenciadas de consciência, que se substituem umas às outras no correr dos diferentes instantes da vida do indivíduo, levando-o a se conscientizar da realidade através de múltiplas formas simultaneamente, mas, por dar mais ou menos valor a esta ou àquela forma de acordo com a cultura em que vive, perdendo a consciência da multiplicidade possível de formas de consciência. Conceitos como estes só passaram a ser desenvolvidos na Psicologia contemporânea a partir dos anos 60 do nosso Século, quando começaram a se esboçar no Estado norte-americano da Califórnia as hoje chamadas Psicologias transpessoais!
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(o link e extensissimo mas recomendo a leitura...)
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(*)talvez um pouco da intimidade de Freud explique a sua opcão de tudo derivar de complexos sexuais...
link: livros de psicologia)
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2 comments:

  1. Anonymous4:17:00 pm

    sou uma grande fá do Jung, o Jung investigou as varias areas da psico-analise, atraves do tarot, sonhos, astrologia etc , O Jung foi muito além do que o Freud- mas, infelizmente, acho o Freud só descobriu a ponta da icebergue. Li tempos atras um artigo escrito por um psico-analista contemporaraneo, que muitos dos problemas entre o homen e mulher hoje em dia, foi devido as misconcepções das teorias de Freud. Vou ver se eu encontro de novo o tal artigo, é mesmo interessante.

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  2. Tambem me identifico bem mais com o Jung... A verdade é que o Freud e suas teorias me parecem demasiado projecções do seu cenário pessoal e de modo algum aplicável à generalidade.

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