Saturday, August 23, 2008

um livro especial...


Afrodite, livro que é sem dúvida uma ode à sensualidade... no seu sentido mais amplo, como modo e meio de percurso e vida.
Sem olhar a barreiras mas com o habitual bom-humor e sensibilidade inteligente de Isabel Alende.
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Quatro príncipio fundamentais, gravados a fogo desde a mais tenra infância, sustentaram a minha formação de menina: sente-se com as pernas juntas, caminhe direita, não opine e coma como as pessoas. No entanto todos os esforços da minha mãe foram insuficientes para fazerem de mim uma senhora: faltava-me simplelmente matéria-prima. A minha família não se recompôs da decepção. Aos dezassete anos, quando descobri que abrir as pernas era muito mais interessante que fechá-las, dediquei-me a violar um por um os severos preceitos da minha educação e agora passado o meio século de vida bem vivida, compreendo que a única coisa que realmente me foi útil foi caminhar direita. E não o digo num sentido metafórico; para uma mulher de um metro e cinquenta de altura, uma postura erecta e a cabeça bem alta é parte da estratégia de sobrevivência. Se andar agachada ainda me pisam. Quanto a comer como as pessoas, cedo me apercebi que isso depende da latitude e das circunstâncias e que para quem gosta de fazer amor comendo e vice-versa, isso das boas maneiras é muito relativo.
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Ensinam-nos desde pequenos a respeitar a distância física em relação a outras pessoas e a ignorar o nosso próprio corpo. Ainda antes de aprender a falar e a atar os sapatos já interiorizámos a proibição de explorar qualquer orifício da nossa própria anatomia e, claro, da dos outros. Depois gastamos fortunas em terapias para descobrir o poder curador do tacto! Na Califórnia, onde vivo, começou uma febre de workshops para ensinar o que qualquer orangotango sabe sem aulas: a tocarmo-nos e a tocarmos os outros.
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