Wednesday, October 22, 2008

Mais um caso lamentável, entre muitos... Palavras certas para todos eles! -e mais algumas perspectivas realistas


A tomada de consciência de direitos e apoios nomeadamente jurídicos por parte dos alvos de violencia, é fundamental.
Igualmente importante é a independencia e auto-segurança emocional, verdadeira génese de todas as outras.
Há, por exemplo, quem eduque numa base de diferença de género em que é importante agradar e moldar-se às expectativas exteriores para a mulher e numa base de assertividade e conquista para o homem...
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(Abençoadas as rebeldes de espírito... delas serão as vitórias!)))
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Os testemunhos das mulheres são tidos como pouco credíveis pela sociedade em geral e, por isso, muitas mulheres sentem-se prisioneiras isoladas no seu mundo de violência. Muitas vezes, de vítimas transformam-se em acusadas; poucas acreditam na possibilidade de se libertarem da perseguição dos agressores ou de que estes venham a ser punidos. Suportam o insustentável porque pensam que estão a proteger os seus filhos, ignorando que, ao fazê-lo, estão a alimentar uma espiral de violência que levará a que alguns deles sejam mais tarde, novos agressores.
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UM CASO LAMENTÁVEL, ENTRE MUITOS...
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O da passada semana: uma adolescente brasileira -Eloá, é encarcerada na sua própria casa pelo ex-namorado tambem extremamente jovem mas não tanto que não seja portador de uma arma de fogo. Junto à jovem estão tambem uma e dois colegas de escola posteriormente libertados. O resto da história tem várias voltas e é puro terror ; a condução da mesma do ponto de vista policial, ou me engano muito ou poderia ter sido bem mais eficaz.

No final, o saldo é a jovem Eloá morta por uma bala cuja origem não é até à data tão clara como seria desejável, a colega que após libertada regressou ao apartamento (!) ferida e o sequestrador preso.
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Pelo meio uma incompreensível e deslocada compreensão da polícia:
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O comandante da ação policial de resgate de Eloá declarou que não atirou no agressor por se tratar de "um jovem em crise amorosa", num reconhecimento ao seu sofrer.

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E o sofrer de Eloá? Por que não foi compreendida empaticamente a sua angústia e sua vontade (e direito) de ser livremente feliz?
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Eu, que acho intelectualmente estimulante e justo o contraditório deixo a pergunta invertendo posições: será que se o mesmo acto lamentável de sequestro fosse protagonizado por uma jovem mulher desiquilibrada e inconformada com o fim da relação ela seria alvo de tanta doce compreensão por parte da polícia?...
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AS PALAVRAS CERTAS PARA TODOS ELES:




(artigo de Maria Dolores de Brito Mota - Socióloga, professora da Universidade Federal do Ceará e Maria da Penha Maia Fernandes encontrado primeiramente no mulheres&deusas da sempre atenta e interveniente Rosa Leonor Pedro)

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Um caso. Aqui em Portugal, nas ilhas.
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Embora faltem elementos, do exposto ressalta a inoperancia do sistema jurídico, que não protege eficazmente uma cidadã sob ameaças e que no caso é a única a tomar medidas coerentes com a situação.

O próprio meio em que se insere a agredida, nomeadamente familiares, parecem fazer o jogo do agressor, validando assim socialmente as suas atitudes...
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Até ao dia de hoje não apanharam o agressor, um monstro. Culpa da PSP do Funchal, Polícia Judiciária e Ministério Público. Desloquei-me muitas vezes a qualquer uma destas Autoridades, o que me diziam, para esperar que ele seja chamado para prestar declarações.


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UM PONTO DE VISTA:

Vocês se lembram de um caso que ocorreu no Rio há oito meses atrás, quando um homem, que achava-se traído pela esposa resolveu mantê-la, juntamente com mais 38 vítimas, sob a mira de uma arma dentro de um ônubus durante mais de 10 horas?
Então, como foi divulgado, a digníssima esposa acusada pelo marido de “puladora de cerca” resolveu perdoá-lo e voltou para seus braços. Resolveu desconsiderar as muitas agressões físicas que sofreu diante da brutalidade e do descontrole emocional do marido.
Bom, isso não causa espanto algum a alguém que labute na Polícia. Diariamente, em todas as Delegacias, chegam casos de mulheres que foram agredidas por namorados, maridos, amantes, filhos, pais. Lesões das mais variadas, especialmente nos braços e rosto. Olhos roxos e inchados, dentes quebrados, lábios cortados. Denunciam que o homem é viciado, alcoólatra, e que tem uma arma em casa. Daí quando o sujeito vai preso, é só contar as horas, daqui a pouco vem elas, trazendo ventilador, roupas limpas e colchonete. - “Pode entregar pro fulano, ele pode estar passando frio…”.


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Violencia, violencia doméstica, violencia física:*

uma anormalidade denunciadora de profundo mal-estar (golpeia-se o que devíamos prioritariamente proteger...

e porque tem tudo a ver:

eu deixo o artigo de Rita de Cassia Garcia
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Para reflectir.

e não ficar, nunca, indiferente à violencia,

seja qual for a sua manifestação!
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2 comments:

  1. Amiga,

    Estava aqui almoçando...ainda bem que já tinha terminado rsrs.

    Você Marian, colocou aqui três textos excelentes que falam por si causas e efeitos. O ultimo explicita bem o porquê da passividade citada nos artigos. Ao mesmo tempo as razões da impunidade. Ao mesmo tempo que inseriu o judiciário na questão. É assunto para discorrer um bom tempo aqui. Mas todos os posts colocados já disseram tudo sobre as razões e comportamentos que reforçam estas "perspectivas realistas".

    Veja, não faz muito tempo, pelas leis brasileiras, quando uma mulher era vítima de um estupro a primeira pergunta do Juiz era: Como a sra. estava vestida?

    E também não faz muito tempo, que quando uma mulher entrava na justiça para uma separação ou requerer alimentos, a simples citação era motivo de terror. Sabe por quê? Muitas, nem conseguiam estar vivas no dia marcado para a audiência. A Intimação bastava para uma nova violência e muitas seguidas de morte....

    Foi criada a delegacia das mulheres porque quando uma mulher chegava a se revoltar e ir numa DP dar queixa, era submetida a vexames, ignoradas, risos e piadinhas de deboches e vários outros constrangimentos...

    Fui de uma geração que não era fácil ser filha de mulher " desquitada" ( termo na época). Era tida como mulher de dois maridos.Prostituta ou quase isso.Se tivessem filhos após o desquite numa nova relação, não poderiam ser registrados e nem batizados...Algumas escolas nem aceitavam " filhos de desquitadas".


    Mas hoje é tão comum um divórcio... As mulheres estudam, trabalham.Mas ainda assim continua o mesmo quadro em relação a violência doméstica. E não só a física! Mas a emocional, psicológica....

    Sobre o pronunciamento do policial , com certeza não teria o mesmo respaldo se fosse uma mulher.
    Entretanto, me parece que o rapaz havia dito que soltaria ( de início) todos e que só queria " conversar".

    Acrescento ainda que esta tipificação criminal, que antes era da faixa etária madura, mudou totalmente. Os índices da passionalidade hoje de adolescentes ou jovens, é muito maior. E por quê? Estamos nós mulheres educando nossos filhos de forma errada? Que muitos em casa tiveram a passividade feminina reforçando a preponderância masculina. com péssimos exemplos de ver mãe, irmãs espancadas, abusadas sexualmente pela figura masculina?

    E como são tristes e comuns os casos como os dessa moça portuguesa...

    Agora proteção policial ante a iminência do crime é quase impossível se obter ou uma ação eficaz preventiva... A impunidade passeia arrogantemente por todas nós.

    Não faz muito tempo, uma jovem me localizou em uma comunidade de vítimas de psicopatas. Tomou coragem e me escreveu um email. Por que ela me escreveu? Não teria família esta jovem? Fiquei triste ante o desespero deste ato e do seu abandono. Dei-lhe algumas orientações e pedi que mantivesse contato. Nunca mais soube dela...Talvez fosse o único ato de coragem que ela tivera tido..o email a uma desconhecida. Mas prefiro pensar em Deus e que ela esteja amparada pela família e bem.



    Marian, militei na área de famíla. E como sempre fui caseira e prolonguei muito minha infância rsrs, quando sai do meu mundo e vi o que realmente era o MUNDO, tive um impacto tão grande que por não ter maturidade suficiente e base informativa da realidade, adoeci.

    E mais...Venho de uma família de criminalistas. Casei-me também com um excelente ( não sou eu como esposa quem diz, mas pelos Tribunais do RJ e colegas, como talvez o melhor). Quantas vezes o vi entrar em casa chorando por se deparar com situações tristes, e até mesmo ao entrar no prédio do nosso apartamento e se deparar com uma filha única, trancafiada pelo marido no apartamento após uma surra, os pais na portaria do prédio desesperados.Tendo situação financeira excelente, criado a filha com amor e nada poder fazer...A filha ama e perdoa...


    È isto amiga...Um triste quadro...


    Grande beijo

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  2. pois é querida Sam, sao questoes muito complexas, que dependem de varios vectores e nenhum fácil de manejar, tudo o que dizes é verdade, a segregação e preconceito dantes ainda era pior.
    actualmente colocar uma vitima a salvo e protegida nem sempre é viável -embora já exista esse serviço, e isso devia ser sempre uma prioridade indiscutivel... Só recentemente a agressao em familia é considerada crime PÚBLICO por aqui, ou seja qualquer cidadão tem dever e o-b-r-i-g-a-ç-ã-o de denunciar.
    Agora, tenho para comigo que se actualmente há mais meios e há mais consciencia no geral para o intoleravel que é alguem sofrer abusos fisicos ou outros e não tomar medidas, o certo é que se a vitima entrega nas maos do agressor a sua vida e permanece nesse jogo ele pode tornar-se mortal... muitas pessoas com possibilidades de afastamento resolvidas continuam numa dependencia emocional doentia praticando um quase suicidio por delegação... Esse tipo de procedimento aberrante deixa-me sempre muito inquisitiva quanto ao "quem faz o quê".
    E tambem, -nao querendo jamais culpabilizar as vitimas- já acompanhei de perto comunidades de risco e vi o apodrecimento emocional que acontece a muitas das crianças que são educadas literalmente à pancada... mais tarde pode originar-se um adulto a viver os relacionamentos numa constante ambivalencia amor-ódio em que a agressao parece fazer parte do "pacote" e é inconscientemente estimulada...
    mas isso levava-nos a outras questoes fundamentais: educação, respeito constante por outro ser, etc.
    Dificilmente alguem que é bem-centrado na consciencia de auto-respeito e dos seus direitos desde a infancia tolera e mantem um ambiente de agressao.
    Ainda há um longo caminho a percorrer e ele começa com a criaçao de geraçoes equilibradas hoje
    Beijinhos -gosto imenso da tua nova foto!:-)

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