Thursday, February 25, 2010

"a escravatura nunca acabou"

Achei o texto perfeito por tocar em várias vertentes - e falar tambem do que está a ser feito - de um flagelo que continua longe de ser resolvido. O texto parcialmente reproduzido abaixo é da autoria de Claudia Pedra, investigadora, e vem publicado num jornal oje de Fevereiro.

[...] segundo dados da onu, cerca de 2,5 milhoes de pessoas são traficadas todos anos. Como todas as actividades de crime organizado transnacional, as estimativas são o que são, e a realidade será bem diferente. Aliás, muitos estimam que sejam cerca de 200 milhões de pessoas que diariamente são obrigadas a vender o seu corpo - prostituindo-o ou forçando-o a trabalhar em condições desumanas. Por detrás de tudo isto está um negócio muito rentável. O tráfico de seres humanos está a par do tráfico de drogas e armas, integrando o conjunto dos negócios mais lucrativos do mundo. Pessoas são vendidas por valores irrisórios como 20 euros e revendidas por centenas ou milhares de euros. Os traficantes são astutos; usam não só o rapto, mas o engano, o aliciamento, para conseguir as suas vítimas. Procuram homens, mulheres e crianças. Procuram-nas para exploração sexual ou laboral, para adopção ou para se servirem dos seus órgãos. Procuram-nas em todos os cantos do mundo.
[...] em Portugal [...] os números do Observatório de Tráfico indicam 138 vítimas sinalizadas em 2008, mas tal só inclui os casos que tinham Portugal como destino e foram oficialmente tratados pelas autoridades. [...] O Departamento de Estado Norte-americano falava em 5000, em 2007. Mas quais são os números reais? Em que locais estão as vítimas? Quais as actividades que são forçadas a fazer?
Para chegar a uma estimativa mais realista e a uma melhor compreensão do problema, foi lançado pelo Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais em Novembro de 2009, um projecto de investigação sobre o tráfico de seres humanos, destinado a aprofundar o conhecimento sobre o tráfico em Portugal -como país de origem, trânsito e destino - compreender a percepção pública do fenómeno e trazer esta problemática para a agenda pública. O projecto pretende trazer as melhores práticas a nivel internacional para o nosso país, e a trabalhar transversalmente todos os sectores da sociedade, não só para reforçar a eficácia no combate ao tráfico, mas para melhorar a assistência às vítimas, promovendo a sua valorização e integração.
Na verdade a escravatura nunca acabou. [...] Ilegalizada ou não, milhões de pessoas continuam a ser arrancadas da sua família, ameaçadas de morte, espancadas, aprisionadas. Todos os anos. Todos os dias.

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