Ensaio sobre a cegueira, obra do escritor português e ganhador do Prêmio Nobel José Saramago, tem a marca do signo solar de seu autor.
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Ensaio sobre a cegueira é a história de uma epidemia que surge inexplicavelmente e rapta a visão das pessoas. Ao contrário da escuridão, os doentes vêem uma luz branca. O mal se alastra rapidamente e as autoridades decidem colocar os doentes em quarentena. Os direitos e as necessidades humanas são esquecidos, demonstrando a absoluta incompetência do Estado para lidar com uma crise deste porte. Isolados, os cegos, que a cada dia tornam-se um contingente maior de pessoas, lutam para satisfazer suas necessidades básicas e para manter a dignidade. Apenas uma personagem confinada não está cega: a mulher do médico, interpretada no filme pela atriz norte-americana Juliane Moore.
A despeito dos detalhes do enredo, basta relacionar os temas envolvidos para que se faça a associação astrológica: o poder estabelecido que esmaga a individualidade por causa do seu radicalismo, a prática de confinar os cegos, que mais parece um sequestro, a necessidade de auto-preservação a qualquer custo, a força dos instintos, como o de sobrevivência e o sexual, e o indivíduo diante de uma situação-limite. A história envolve o leitor e o espectador, transmitindo a podridão do ambiente em que se passa. A sujeira que vai tomando conta do local onde os cegos estão confinados é perceptível a eles pelo odor insuportável e pelo tato. É o apodrecimento, simbolizado pelas águas turvas de Escorpião. A absurda situação em que estas pessoas se encontram vai abalando a estrutura psicológica de todos. A personagem da mulher do médico destaca-se na história por ter uma resistência, física e psicológica, típica dos escorpianos. Além disso, ela demonstra outra habilidade deste signo ao guardar um segredo, o de ser a única a enxergar, e de saber usá-lo na hora certa. A mulher do médico não só é capaz de matar alguém como o faz, pois tem sangue-frio suficiente e, em determinado momento da trama, percebe que não há outra saída.
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Uma das passagens mais tensas do livro tornou-se uma das cenas mais polêmicas do filme Blindness. Trata-se de um estupro coletivo. O diretor Fernando Meirelles reduziu o tamanho da cena, após realizar testes com o público e perceber que seu impacto era tão grande que colocava as pessoas contra o filme. A abordagem direta da sexualidade, em seus aspectos mais ou menos nobres, está ligada a Escorpião, o signo do desejo.
O filme Blindness exigiu muito de todos os envolvidos em sua realização. Do escritor, Saramago, foi necessário desprendimento suficiente para suportar ver sua criação transposta à linguagem cinematográfica, o que não é pouco. “Cinema destrói a imaginação” teria dito ele, anos antes. Do diretor Fernando Meirelles, exigiu uma aposta bastante alta, ao adaptar uma obra aparentemente inadaptável, devido ao caráter marcante da escrita de Saramago e que é o livro preferido de muitos dos seus leitores. Meirelles ainda precisou encarar os protestos de associações em defesa dos direitos dos cegos, que o acusaram de retratá-los como monstros.
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“Ensaio sobre a cegueira”, assim como o signo de Escorpião, é uma obra que não passa despercebida, por sua intensidade e impacto.
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