Saturday, May 27, 2006

E um cérebro à experiência, vai?
















Gostei de ler, hoje...

Se o poder dos meios de comunicação e a própria publicidade fossem bem usadas, como estariamos?

Provavelmente melhor...


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Está a passar nas TV um anuncio em que um tipo com uma mulher ao colo bate à porta de uma casa e que, quando outro tipo mais velho vem abrir, diz enquanto lhe passa a mulher para os braços, qualquer coisa como isto: "Desculpe, mas depois de três dias de casamento constatei que a sua filha não me serve". O anúncio, percebe-se a seguir, não é sobre as vantagens da coabitação e do sexo pré-conjugais, nem sequer sobre um qualquer esquema de rent-a-gaja ou a revisitação dos costumes patriarcais da sociedade portuguesa de há cem anos. Não: é sobre uma carripana qualquer cujos vendedores a emprestam "à experiência" por três dias, e aposta-se que foi arquitectado por uma equipa jovem e dinâmica e sexualmente mista, que usa ténis hipervanguardistas, jeans descaídos e piercings e acha que já estamos no pós-pós do pós e portanto expressões como "exploração degradante da imagem da mulher" (que fez parte da lei de publicidade até 1991), só para rir. Gente que acha que os estereótipos dão imenso jeito na puciblicidade e não têm mal nenhum, e a quem não passa pela cabeça que alguém não ache pilhas de graça à sua criação. Gente jovem, desinibida e sofisticada, que nem por um instante se questiona sobre o motivo pelo qual não pôs uma mulher a entregar o marido à sogra, e acha que a discriminação surge por geração espontânea, sem nada a ver com os discursos e as imagens dominantes em geral e a publicidade em particular. Gente que em calhando faz a seguir uma campanha linda, fortérrima, supercomovente, contra a violência doméstica. E de borla até. Porque a violência é uma coisa horrivel, não é?

Fernanda Câncio, rubrica Opinião - Diário de Notícias




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A gripe dos morangos

(Várias crianças queixaram-se de urticária depois de verem os 'Morangos com Açucar'*)

Depois de assistirem a 'Morangos com Açucar', dezenas de crianças em todo o país queixaram-se de sintomas de alergia semelhantes aos que uma personagem da novela juvenil tinha revelado nesse episódio. Ao que parece, tratou-se de uma reacção do foro psiquiátrico. Não admira. A novela também é do foro psiquiátrico.
[...]
O que é certo é que não vem mal ao mundo por uma dúzia de crianças ter imitado um ídolo televisivo, inventando que sofrem da mesma alergia que ele. Pedia apenas aos autores dos 'Morangos que evitassem infectar as suas personagens com doenças venéreas, o que traria algumas complicações aos encarregados de educação portugueses.
Imaginem só o potencial de uma série que consegue contaminar os seus telespectadores com doenças. É fantástico! As possibilidades de contribuir para o País são imensas. Basta as personagens dos 'Morangos' tornarem-se inteligentes e poderíamos estar a forjar uma nova geração de portugueses capaz de salvar o País.
Claro que há um pequeno problema: se as personagens dos 'Morangos' fossem inteligentes, muito provavelmente a série não seria um sucesso. Além disso, tenho fortes dúvidas que em Portugal a inteligência seja contagiosa.

Tiago Rodrigues, rubrica MassaCrítica - revista Notícias Sábado

*morangos com açucar é uma novela, produção nacional, sobre e para adolescentes.
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