Que hormonas estão directamente ligadas à expressão de personalidade e comportamentos muita gente sabe, mas como em todos os sectores da ciência, a descoberta é constante e nunca acabada.
Achei estas duas notícias aqui bem interessantes:
TESTOSTERONA MATA NEURÔNIOS
Se alguma vez você já recebeu ameaças gratuitas de algum brutamontes orgulhoso dos próprios músculos, tente perdoá-lo talvez ele tenha alguns neurônios a menos. Altas doses de esteróides sexuais masculinos, como a testosterona, costumam ser consumidas por homens obcecados com o aumento da massa muscular. Além dos efeitos adversos já conhecidos, como atrofia dos testículos, comportamento mais agressivo e maior tendência ao suicídio, a testosterona estimula a morte neuronal, indica um estudo da Faculdade de Medicina de Yale. Os cientistas observaram que altos níveis desse hormônio, mesmo que por períodos curtos de seis a 12 horas deflagraram a morte celular, também chamada apoptose, em culturas de neurônios. O processo induzido por testosterona parece ocorrer por superativação das vias de sinalização intracelular que envolvem íons cálcio, segundo os cientistas.
Fonte: Revista Viver Mente & Cérebro (novembro/2006)
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[...]O mais conhecido promotor de elos afetivos é o hormônio e neuropeptídeo ocitocina, liberado no cérebro das mães após o parto, no dos pais ao segurarem seus bebês pela primeira vez, e no de ambos durante o orgasmo. Uma função “socializadora” do hormônio também é evidente em arganazes, pequenos roedores que existem na natureza em versões sociais, monógamas, cuidadosas com a prole e muito sensíveis a ocitocina, e versões anti-sociais, polígamas, que abandonam rapidamente a prole, e pouco sensíveis a ocitocina. Zak estava a par desses dados em 2001, quando iniciou um programa de pesquisa que visava a investigar se a ocitocina, além de promover elos sociais afetivos, também influencia em humanos essa atitude que é base para uma vida bem-sucedida em sociedade: a confiança em outrem.
Os resultados foram publicados na revista Nature em Junho de 2005. Zak e três colaboradores da Universidade de Zurique, na Suíça, avaliaram em 194 jovens universitários, todos homens, o efeito de três borrifadas de oxitocina em cada narina sobre a sua vontade de confiar dinheiro a “banqueiros”. O dinheiro (de verdade, a ser recebido ao final do experimento) aplicado por cada investidor seria triplicado na mão do banqueiro – mas este teria total poder de decisão sobre a quantidade a devolver ao investidor (bastante realista, não?). Os banqueiros no experimento sempre devolviam quantias maiores do que as investidas, mas – de maneira também bastante realista – nunca correspondentes a uma divisão igualitária dos lucros…
Já foi demonstrado anteriormente que ocitocina borrifada no nariz atravessa a barreira hemato-encefálica e chega ao cérebro – e esta deve ser a base do achado principal da equipe: sob os efeitos do neurohormônio, duas vezes mais investidores confiavam aos banqueiros do experimento todo o seu dinheiro, correndo inclusive o risco de não receberem nada de volta. O valor médio dos investimentos era também 17% maior sob os efeitos da ocitocina. O valor do retorno, claro, não mudou nada – apesar de os banqueiros também terem borrifado ocitocina no nariz. Decidir quanto dos lucros dividir com o investidor não é uma questão de confiança, já que o banqueiro não corre risco algum na transação.
As conclusões possíveis são variadas. Ocitocina deixa o cérebro bobo? Talvez, no caso dos investidores. Mais propenso a aceitar riscos? Não, segundo um experimento controle onde o retorno financeiro da aplicação era determinado randomicamente, e não pelo banqueiro: neste caso, a ocitocina não teve nenhum efeito sobre a proporção de investidores que aceitavam arriscar tudo, nem sobre o investimento médio. O efeito da ocitocina, então, só se dá quando a interação é social, entre pessoas reais, e envolve confiança? Provavelmente. Isso significa que bancos e instituições financeiras agora podem passar a borrifar ocitocina no ambiente, para aumentar as chances de receber bons investimentos de seus clientes, agora mais confiantes? Certamente podem – principalmente porque sprays de ocitocina, aliás idênticos ao empregado nos experimentos, estão à venda em qualquer farmácia na esquina, receitados geralmente para facilitar a descida do leite em mães lactantes.
António Damásio, escrevendo a respeito do artigo na mesma edição da revista Nature, contemporiza lembrando que artimanhas de marketing para aumentar o nível de ocitocina no cérebro de clientes de bancos e da população em geral já são usadas há muito tempo, e provavelmente são pelo menos tão eficientes quanto um spray de ocitocina no nariz. Mas há uma outra possibilidade, mais otimista e confiante (talvez porque meu cérebro esteja mais banhado por ocitocina que o do Damásio?). No dia em que bancos e afins usarem perfumes ambientes de aroma ocitocina, não serão os clientes os únicos afetados: também gerentes e os demais presentes na agência ficarão sob a influência do que tanto Damásio quanto a antropóloga Helen Fisher chamam “hormônio do amor”, e assim mais propensos a acreditar na boa índole do próximo. Portanto, longe de ser apenas a possibilidade de manipulação mercadológica alardeada nos jornais que afetaria os níveis de ocitocina somente no cérebro do comprador, talvez o tal temido spray de ocitocina acabasse conseguindo o que décadas de eleições abertas em inúmeros países não conseguiram: tornar as relações econômicas mais justas. Imagine só: uma agência bancária, financeira ou uma plenária do Fundo Monetário Internacional aromatizada com ocitocina, onde todos estão dispostos a confiar na boa índole alheia…
(última notícia do link)
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Por favor, um spray de ocitocina!!
ReplyDelete(é q me daria um certo jeito num certo local) :P
Obrigada mais uma vez por me dares a conhecer assuntos añteriormente desconhecidos :)
Hematite
Ha! Ha! Quem sabe não é comercializado?!
ReplyDeleteAcho que vou continuar minha busca de uma certa casa virtual!
Sei que me entendes... ;-)
Bjx.
Numa matéria em que se é leigo, tudo o que se aprende é enriquecedor. Obrigado.
ReplyDeleteFiquei a saber um pouco mais.
Um abraço
Quando o conhecimento interage tão directamente com nosso próprio corpo e vida acho quase uma prioridade transmitir, Um Poema.
ReplyDeleteE depois saber é sempre positivo!
Abraço amigo