Monday, September 17, 2007

vulnerabilidades...

*
texto de Bel Cesar
*
um texto, de vários possiveis, do somostodosum desta semana...
**
Em geral, quando nos referimos a uma horta, surge na mente a imagem de canteiros com fileiras de alface, cenoura, brócolis... Mas se formos visualizar uma horta segundo os princípios da Permacultura, teremos de mudar a nossa mente e ser capazes de imaginar todos esses canteiros num só: alfaces crescendo ao lado de cenouras, junto com brócolis e com flores como cosmos, zínias, dálias e margaridas... É justamente a multiplicidade dos ecossistemas naturais que garante seu equilíbrio dinâmico.

O termo Permacultura surgiu da contração das palavras permanente e agricultura. Neste sentido, a Permacultura visa criar ambientes auto-sustentáveis, capazes de gerar, com harmonia, alimentação, energia e habitação para pessoas e animais.
[...]
As plantas antagônicas traduzem personalidades agressivas, que exteriorizam seus interesses e conquistam suas necessidades. A agressividade não é, por si mesma, positiva ou negativa, mas sim o instinto da força propulsora. O que define a sua natureza é a motivação por detrás da ação. Sermos diretos e enérgicos pode gerar conflitos ou soluções, conforme a intenção de nossos atos.

Por exemplo: em geral, o picão é visto como planta antagônica devido a seu rápido crescimento. Suas raízes expansivas absorvem água com tanta eficiência impedindo que as raízes de outras plantas recebam a água que necessitam. No entanto, suas folhas são altamente nutritivas, ricas em fósforo. Se soubermos a hora certa de podar o picão, poderemos usar positivamente seu potencial agressivo, deixando que suas folhas mortas virem adubo para as frágeis verduras. Desta forma, a natureza está nos ensinando que podemos usar criativamente a força da agressividade se soubermos como direcioná-la.

As plantas antagônicas podem se parecer com as pessoas egoístas e narcisistas que visam unicamente seguir o seu próprio impulso sem considerar os limites alheios, mas, assim como as pessoas agressivas, elas também têm suas limitações: quando deixadas à deriva, acabam por se extinguir.
[...]
Uma pessoa agride quando quer mostrar que não foi tratada como gostaria de ter sido. Agride para chamar atenção de que algo está lhe faltando. A agressão é a forma que encontra para protestar sobre aquilo que a fez sentir-se injustiçada. Em outras palavras, agressivo é aquele que se sente fraco por crer que aquilo de que necessita está fora de si, está no outro, e como ele não sabe ser receptivo para receber o que tanto quer, continua inutilmente agredindo para aclamar a sua falta.

Para romper este ciclo vicioso de carência e agressão é preciso dar a si mesmo a chance de ser diferente. Para tanto, temos primeiro que admitir que nos habituamos à disputa, isto é, ao fato de tendermos a atacar sem termos sido atacados. Paralelamente, temos que admitir para nós mesmos que temos carência e baixa auto-estima. Quando nos encaramos com abertura e honestidade, paramos de nos criticar com menosprezo. Quando superamos o medo de admitir nossas fraquezas, começamos a diminuir a arrogância de nossa expressão agressiva. Pois assim que sabemos como nos sustentar diante de nossa vulnerabilidade, já não precisamos mais do outro para projetar nossa própria disputa interna.
[...]
As plantas nos ensinam sobre a coragem de aceitar os desafios. Rudiger Dahlke, em seu livro “A Agressão como oportunidade” (Ed. Cultrix), ressalta a importância de a pessoa estar disposta a lidar com seus conflitos para ter uma boa saúde física: “Quando não damos espaço para uma luta conveniente ou um conflito na consciência, ele tem de procurar um outro lugar qualquer para si. O corpo se oferece como o palco no qual os temas não elaborados na consciência podem expressar-se. Disso se segue que quanto menos as brigas acontecerem de forma consciente, tanto mais situações de guerra o corpo terá de apresentar”.
*
*

No comments:

Post a Comment