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O texto abaixo é um excerto de uma crónica semanal da jornalista brasileira Cora Ronai, tambem publicada no blog dela. Além de excelente profissional, ela envolve-se frequentemente com questões relacionadas com os direitos animais, o que com a sua visibilidade profissional, vira uma formação de opinião pública muito positiva, Tambem é uma fã assumida de gatos, tendo sido adoptada por vários felinos com quem partilha a vida...
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Este texto vem como exemplo de que palavras são o retrato de mentalidades, denunciam crenças subjectivas, posturas de vida e por vezes são autênticas demontrações das crenças médias de um povo (os árabes por exemplo, pretendem ofender máximamente quando chamam alguem de cão...)
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Este vai ser o primeiro de alguns posts dedicados ao (mau) uso de palavras em diversas áreas...
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Notar e não calar é o mínimo que podemos fazer...
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[...] Por falar nisso, há uma imagem recorrente bastante perturbadora nos depoimentos dos brasileiros deportados de Madri. Lucimeire de Souza Rocha disse que ficou fechada numa salinha, “como se fosse um cachorro”; Marcos Vinicius observou que os policiais que os prenderam “olhavam de cara feia, como se fossemos bichos”; Elisete, cujo sobrenome me escapou, disse que foram todos “muito maltratados, humilhados, tratados como bichos”; Pedro Luiz Lima conta que reagiu aos gritos do policial dizendo “Olha, não somos cachorros, trate a gente como homens”; Ramon Santana confirma, “fui tratado como cachorro”.
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Longe de mim querer desviar o foco da conversa, mas há algo muito errado aqui – e não estou falando do ocorrido na Espanha, a respeito do qual estamos todos de acordo. Quer dizer que, se estivéssemos falando de bichos de verdade, especialmente de cachorros, as maldades dos espanhóis não teriam importância?! Será que é tão natural assim trancafiar bichos, e deixá-los passar fome e sede?!
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Ainda que esses sejam cachorros retóricos e que isso seja só figura de linguagem, o fato é que, por trás de expressões assim, há um preconceito que não devia ter mais lugar. Tanto lá quanto cá, já é mais que tempo de tratarmos humanos e não-humanos com o mesmo respeito, carinho e consideração com que gostaríamos de ser tratados. [...]
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(O Globo, Segundo Caderno, 13.3.2008)
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