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A principio parecia apenas mais um livro de auto ajuda, depois comecei a achar que era um pouco mais. Ainda estou a ler, mas o percurso pessoal da autora, que ocupas breves páginas no início do livro e serve para nos situar, é por si só um exemplo de autenticidade e fidelidade própria que vale a pena seguir com atenção.
A principio parecia apenas mais um livro de auto ajuda, depois comecei a achar que era um pouco mais. Ainda estou a ler, mas o percurso pessoal da autora, que ocupas breves páginas no início do livro e serve para nos situar, é por si só um exemplo de autenticidade e fidelidade própria que vale a pena seguir com atenção.
É também uma história de sucesso pessoal.
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[...] No fundo do nosso inconsciente cultural encontram-se suposições enraizadas acerca da vida que são perniciosas para a nossa saúde, para a nossa realização pessoal e profissional e para a satisfação dos nossos impulsos criativos inatos.
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Porque haveria o leitor de acreditar no que tenho para lhe dizer? A única resposta que lhe posso dar é o meu percurso pessoal [...] Nasci em Nova Iorque, filha de um Matemático e de uma editora literária [...] Quando terminei o secundário, frequentei o Radcliffe Colegge, a faculdade que se fundiu com Harvard em 1977. Licenciei-me em 1967 com as melhores notas da turma e fui para Inglaterra dois anos com uma bolsa de estudos para a Universidade de Cambridge
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O meu pai sempre encorajou as minhas aspirações académicas. Quando regressei aos Estados Unidos, inscrevi-me na Universidade de Colúmbia e, em quatro anos, obtive um doutoramento em filosofia.
Ninguém punha em dúvida que eu tivera uma vida priviligiada e fora bem-sucedida. Aos vinte e sete anos era assistente de filosofia na Universidade Estatal de Nova Iorque. [...] Publicava artigos que recebiam boas criticas e dava aulas que eram sempre muito frequentadas. Enquanto ensinava, casei com um colega dos tempos da universidade, oriundo de uma família abastada.[...] Tudo parecia correr às mil maravilhas. O sucesso chegara cedo
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Então, no decurso de poucos meses, o meu mundo ruiu. Os primeiros sinais foram incomodativos mas não o suficiente para gerar pânico. Comecei a sentir as pernas estranhamente cansadas quando regressava das compras, das minhas corridas, ou de uma volta de bicicleta. Depois, num cinzento dia de Outubro, acordei a sentir-me esquisita. Quando rodei as pernas para a borda da cama, elas não suportavam o meu peso e cambaleei assim que tentei levantar-me. Recordo-me vividamente da sensação de ridículo quando me pus de gatas para conseguir chegar à casa de banho. Não me passou pela cabeça que nos meses que se seguiriam iria passar muito tempo com o nariz colado ao chão.
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Estava habituada a ser eu a comandar o meu corpo, mas agora era ele que mandava. Sentia-me cada vez mais fraca. Em pouco tempo cada pedaço de mim [...] parecia estar a arder. No meu gabinete, sempre que esticava o braço para alcançar uma caneta ou uma caneca de café, dores lancinantes desciam do ombro para o pulso e para os dedos.
Marquei consulta com os mais famosos neurologistas, ortopedistas, reumatologistas e especialistas de medicina interna nos melhores hospitais da cidade; porém o resultado de cada uma era inconclusivo. Ninguém perecia saber ao certo o que se passava comigo.
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Estive encurralada num pesadelo do qual não consegui acordar durante três anos. Seriamente incapacitada, passava a maior parte do tempo na cama [...] O meu marido saía para o trabalho de manhã cedo, deixando fruta e outras iguarias em cima da cama, bem como um jarro de água e outro de chá. Eu dormia até não ter mais sono, depois lia, desenhava, falava com o meu terapeuta ou com a família ao telefone, fumava compulsivamente, jogava paciências e sentia-me um verme. Nos dias bons, conseguia reunir forças para fazer pequenos passeios pelo apartamento, ou na melhor das hipóteses sair acompanhada por amigos ou familiares para uma caminhada mais longa por um quarteirão ou dois. Aos trinta anos vivia a vida de um idoso numa casa de repouso.
[...] se me recomendassem algum médico, marcava logo consulta. Devorava toda a literatura que encontrava sobre saúde e nutrição [...] Por fim consegui deixar o tabaco e o café [...] Então encontrei um naturopata, uma espécie rara na costa leste dos Estados Unidos naquela época. O Dr Cursio era um octogenário com quase meio século de experiência profissional e um poço de conhecimentos [...] iniciei uma dieta vegetariana rigorosa onde se incluíam sumos de vegetais e frutos, legumes cozidos a vapor e frutos secos. A minha dieta passou a ser totalmente isenta de sal, açúcar, cafeína ou quaisquer outros estimulantes. Estes passos foram essenciais para a minha cura e acho sinceramente que a dieta constituiu o pano de fundo sobre o qual o processo de cura podia decorrer.
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Quando olho para o passado, no entanto esses mil dias de infindável tormento fizeram parte do plano universal para me colocar no caminho da aprendizagem.
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Porém, em 1978, não havia ninguém para me falar do plano do universo. [...] Não havia ninguém para me dizer que o meu trabalho a partir de então não seria academicamente brilhante, mas de aprendizagem nas artes da auto consciência, que podem ser usadas para modificar a nossa vida a partir do interior.
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Os meus problemas físicos empurraram-me para uma viagem de autoconhecimento que me levou para além dos valores e aspirações convencionais que acalentara até então [...] Só quando comecei a mudar o meu estilo de vida e a minha consciência é que o meu corpo escolheu viver de novo e a minha vida começou a mudar.
O espaço para a cura começou a abrir-se quando deixei tanto o mundo académico como o meu marido. Há já muito tempo que estava de baixa, por isso abandonar a vida académica não foi muito difícil em termos práticos A nível psicológico foi mais complicado, pois significava abandonar a minha identidade profissional e deixar de ser a pessoa que os meus pais queriam que eu fosse. Mas tudo isto era de menor importância quando comparado com a dificuldade de deixar o meu marido. Tornara-me totalmente dependente dele em termos financeiros e era ele que cuidava das minhas necessidades físicas. Ainda assim, uma voz dentro de mim murmurava que, enquanto dependesse da segurança de viver com ele, não me curaria. [...] O nosso relacionamento limitava-se a fazer parte de um arquétipo sociológico que valorizava a dependência feminina e estávamos ambos de forma inconsciente comprometidos com esse arquétipo. [...] Tinha de me ver livre de muita culpa e medo até chegar ao ponto em que pudesse ver que apenas poderia manter o meu marido na minha vida se me mantivesse a mim fora dela.
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Deixei o apartamento que fora o meu lar e o casamento que parecia preencher qualquer sonho romântico de infância num daqueles dias em que rastejar era mais fácil que andar. O meu marido não conseguia entender o que se passava, e quem poderia censurá-lo? [...] Num ano oficializámos o divórcio e eu fiquei prácticamente na bancarrota. Porém, foi sob estas circunstâncias desfavoráveis que comecei a melhorar [...] O meu corpo reagira, dizendo que tomara a decisão certa.
Abandonar a segurança do meu casamento foi o meu verdadeiro passo no processo de deter o controlo sobre a minha cura. Abrira mão de uma coisa que achava que queria: um casamento com alguém que me oferecia segurança financeira e que inconscientemente também reclamava uma dependência emocional. [...] Tal como tantas outras pessoas no caminho para a cura, tinha de aprender a tomar responsabilidade pela minha vida, incluindo a minha doença, sem mergulhar na culpa, na autocrítica e na autocensura.
Comecei por me juntar a um grupo de meditação [...] Quanto mais meditava, mais me apercebia de níveis profundos de tensão que acumulara no corpo sem que tivesse dado conta. Até certo ponto, não me apercebera dessa tensão, porque era culturalmente normal - aceite e incontestada - encarada como necessária e mesmo como um factor positivo [...] A falta de amenidade nos rostos, os olhares preocupados, agressivos ou assustados, as costas encurvadas, os ombros tensos, o discurso em catadupa. Tudo isso tinha a ver com tensão. [...] se a nossa cultura tivesse uma imagem de marca, essa imagem seria tensão e stress crónico e desnecessário [...] a comunidade médica oferecia-nos técnicas para aliviar o stress, mas a nossa cultura recompensava-o [...] A televisão, o cinema e a imprensa viciavam as pessoas no stress superestimulando-as com cenas de sexo, violência e medo. As pessoas aprenderam a associar a felicidade a estar excitadas [...] a indústria alimentar apoiava essa essa superexitação
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Um amigo sugeriu-me a técnica de Alexander
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[...] todo o meu corpo me pareceu uma máquina bem afinada, graciosa e fluida [...] E escusado será dizer que as minhas dores também diminuíram. Após uma aula apenas, já estava "apanhada". [...] Empenhei-me num curso de formação de três anos para obter um certificado como professora da técnica de Alexander
[...]Também fiquei fascinada com o facto de parecer haver uma relação directa entre o libertar de tensão do meu corpo e uma melhoria na concentração [...] frequentara um dos melhores colégios particulares do país, estudara em algumas das mais reputadas universidades do mundo; Harvard, Cambridge, em Inglaterra, e Colúmbia; porém em lado nenhum alguém me falara desta relação entre a concentração e o relaxamento físico.
Explorei e fiz formação em várias técnicas de trabalhar o corpo [...] Ainda assim, recordo-me de que, durante um tempo, depois de abrir o meu consultório, me senti uma proscrita. Deixara para trás aquilo para que inicialmente me formara e tudo o que acreditara ter valor. A minha família não compreendia o que eu estava a fazer e sentia-se muito desapontada por eu ter abandonado o que parecia ser uma brilhante carreira. A que propósito vinha agora essa história de meditação e de trabalhar o corpo? Porque não voltava a ser apenas uma intelectual?Não pareciam levar muito a sério o meu trabalho, e mesmo com todo o meu treino intelectual, nem sempre era fácil explicar [...] Na verdade a nossa cultura desencoraja o crescimento interior e a auto consciência, reprimindo a derradeira fonte do nosso sentido de realização
[...]
Em redor de mim vejo outras pessoas que, tal com eu, estão seriamente doentes em resultado de viverem escravizadas pelas normas culturais
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Segue para a parte I do livro: O Caminho do Guerreiro Esforçado: Um Vício Cultural
(in A Arte de Viver sem Esforço - Ingrid Bacci)
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Mais sobre ingrid_bacci (em ingles, mas quem preferir pode usar tradução -do google por exemplo)
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(curiosidade: técnica Alexander e parto natural)
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