Thursday, March 24, 2011

Sabem, esta menina tem uma historia especial...


MINHA QUERIDA FLORBELA

A brisa soprava leve ,abanando ligeiramente a copa das árvores .Chamo-lhe a” dança das árvores” e nunca me canso de a ver… Era um final de tarde num sábado maravilhoso, o pequeno Afonso tinha vindo passar o fim-de-semana. Já gatinhava e fazia as gracinhas próprias da idade, um verdadeiro amor.
Quando o telefone tocou, estava longe de imaginar que tudo mudaria para sempre…

Do outro lado da linha um pedido urgente de ajuda: Um senhor dizia-me que tinha retirado o meu contacto, de um site de ajuda animal, e que estava um cãozinho numa berma da estrada na localidade de Tocadelos, muito perto de mim. Estava ali desde as seis horas da manhã e eram naquele momento 19 horas. Um amigo do Sr. que era segurança numa firma ali perto, tinha-o alertado para esta situação.

O meu coração sobressaltou-se, toda eu tremo, independentemente da situação” onde colocar mais um cãozinho?” Mas para quem anda nesta vida, o sobressalto é companheiro diário. Portanto só tirei as calças de pijama e vesti umas de ganga, peguei na maquina fotográfica, pedi ao meu filho que olhasse um bocadinho pelo meu pequeno sobrinho Afonso e pus-me a caminho.

Foram poucos minutos de viagem pela estrada nacional que liga Loures ao Cabeço de Montachique. Vejo então, numa entrada de Tocadelos a tal rotunda de que o Sr. me falou, a berma em declive e a minha querida cadelinha, tão triste, com tanto medo, sempre com o olhar para baixo, sempre a pedir desculpa, as patinhas traseiras dobradas para trás e muito feridas, muitas moscas à sua volta.

Os meus olhos cruzam os dela e digo-lhe em segredo “ por favor não peças mais desculpa, não tens de pedir, quem pede desculpa sou eu, afinal foi a minha espécie que te deixou assim…”
A nós juntou-se então o Sr. Segurança, disse -me que a pobrezinha não tinha sido atropelada ali naquele local, pois logo pela manhã viu-a vir a arrastar-se encosta abaixo, até que caiu no declive e ali ficou todo o dia.

Tinha de pensar rápido e foi então que peguei na máquina fotográfica. Não consigo focar, respiro e lá sai a primeira fotografia onde se emoldura o sofrimento, depois mais uma, aproximo-me e percebo que é uma menina, uma linda menina, o seu olhar esta tão perturbado, é o olhar de um animal que pede ajuda, que pede piedade…

Afago-lhe a cabeça e o focinho que está tão queimado, depois de ter passado o dia todo à torreira do Sol, ofereço-lhe água que aceita sofregamente, bebia litros se eu deixasse.
Agarrei-lhe na pele do pescoço, a outra mão na barriga e lá icei a menina da valeta. Não houve qualquer tipo de resistência, nem de lamentação o que não é bom…Não tinha as patas partidas, mas sim, algum tempo de lesão grave na coluna. Ao fim de algum tempo nesta vida também já sou um bocadinho veterinária.

Deitei-a na mala do carro e encaminhei-me para a clínica.

(...)

Não sei ao certo que horas eram quando chegámos a casa. A vontade de arranjar um lugarzinho para a menina e a tristeza de tudo o que tinha vivido mais uma vez, anularam as horas mas improvisei uma caminha para a Florbela na marquise. Deitei-a e ofereci-lhe água, bebeu muito, tentei de seguida comida, mas não aceitou, virou o focinho para o lado sempre com o olhar submisso. Tanta capacidade de perdão que o seu coração transportava… Nenhum de nós tem essa capacidade, mas no entanto somos o ser superior…

Mas voltando às lembranças, pus-lhe uma pomada para as queimaduras no focinho tão cor de rosa e tão cheio de bolhas provocadas pelo sol e deixei-a descansar com o comedouro ao pé…
Apercebo-me passado um bocadinho que o Afonso emitia uns sons animados. Ao espreitar, vi um belíssimo momento de ternura, o bebé tinha gatinhado até ao pé da Florbela e oferecia-lhe ração grão a grão e ela aceitava. Consegui captar em fotografia este belo momento, o bebé Afonso com o seu fatinho amarelo a oferecer comida à Florbela e ela a aceitar com muito jeitinho.

E lá passaram os dez dias de cortisona e nada… A minha cadelinha arrastava-se pela casa, às vezes sustinha-lhe as patinhas traseiras com uma toalha para que ela pudesse andar normalmente e ela agradecia com muitas lambidelas e beijinhos. Mas não andava e isso assustava-me. Ao fim de duas semanas decidi então levá-la a um especialista que após lhe ter feito alguns exames, me disse que a Florbela tinha a segunda vértebra lombar fracturada, a medula estava estrangulada e não havia nada a fazer, a menina não voltava a andar…

Agarrei na minha Florbela ao colo, sentei-me na escadaria que dava para o estacionamento e abracei-a. Chorei, chorei muito e a minha Flor lambia-me as lágrimas e continuava a pedir desculpa… Entre soluços disse-lhe em voz alta: “não peças mais desculpa, foi um dos meus que te deixou assim e te abandonou… eu peço desculpa, tu não…”

A minha mente fervia e o meu coração estava tão apertado que doía. Que fazer com uma cadelinha paraplégica?… A trabalhar e com tantos animais para cuidar, que qualidade de vida lhe poderia dar? Um animal neste estado, exige muito de nós porque é dependente, nomeadamente a nível de higiene, porque uma fractura destas torne-os incontinente …

Mais uma vez coloquei a Flor na mala do carro e enquanto conduzia, ia olhando para ela pelo espelho retrovisor…

Por vezes existem momentos mágicos e esse momento aconteceu… a minha Flor olhava pelas janelas, via a paisagem e ladrava. Ladrava muito de contente, agitava-se de um lado para o outro, na bagageira, como se tivesse de ver tudo naquele momento, e eu chorava, chorava… Nos telefonemas que fiz, todos me aconselharam a adormecê-la… O meu marido que seguia ao meu lado, leu-me os pensamentos e disse-me” não tens que a mandar adormecer, eu ajudo-te a cuidar dela…

(...)

Recentemente descobrimos que a Florbela tem leishmaniose. Possivelmente foi este o motivo do abandono, que acabou por levar ao atropelamento. A minha cadelinha gasta em média 150 fraldas por mês e cerca de 40 resguardos, usa pomada de bebé para não assar nem ferir. Come todos os dias cerca de 1 kg de ração e um stik para os dentes ao deitar, porque os adora e porque tem uns dentes lindos. Toma diariamente, Alouporinol e cortisona, está a fazer o tratamento para a leismaniose com Glucantine.

Vive intensamente cada minuto e vive principalmente com muito amor e muita garra dentro dela…
Muito poucos de nós teriam tal força para enfrentar a vida. As dificuldades para a minha menina não são obstáculos…

Esta é a minha, nossa FLORBELA

Ana Sousa

(Texto completo)


Este e um tocante testemunho de coragem para dar uma segunda oportunidade de vida quando para muitos tudo estaria perdido...

Neste momento e o ultimo post do aquihabichos.com

Saiba quem são.


* * *

junto com outras associações

vai haver recolha alimentar para animais abandonados

neste fim de semana.

Todas as ajudas são bem vindas.


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