Saturday, August 20, 2005

Alma, no feminino


Foto no ricardokelmer

Nesta crônica quero fazer uma homenagem a um tipo especial de mulher. Eu a chamo de mulher selvagem. Sua beleza é arisca, arredia aos modismos. Ela encanta por um não-sei-quê indefinível... mas que também agride o olhar. É um tipo raro e não tem habitat definido: vive em Catmandu, mora no prédio ao lado ou se mudou ontem para Barroquinha. E não deixou o endereço.
A mulher selvagem em quase tudo é uma mulher comum: pega metrô lotado, aproveita as promoções, bota o lixo para fora e tem dia que desiste de sair porque se acha um trapo. Porém em tudo que faz exala um frescor de liberdade. E também dá arrepios: você tem a impressão que viu uma loba na espreita. Você se assusta, olha de novo... e quem está ali é a mulher doce e simpática, ajeitando dengosa o cabelo, quase uma menininha. Mas por um segundo você viu a loba, viu sim. É ela, a mulher selvagem.
A sociedade tenta mas não pode domesticá-la, ela se esquiva das regras. Quando você pensa que capturou, escapole feito água entre os dedos. Quando pensa que finalmente a conhece, ela surpreende outra vez. Tem a alma livre e só se submete quando quer. Por isso escolhe seus parceiros entre os que cultuam a liberdade. E como os reconhece? Como toda loba, pelo cheiro, por isso é bom não abusar de perfumes. Seu movimento tem graça, o olhar destila uma sensualidade natural - mas, cuidado, não vá passando a mão. Ela é um bicho, não esqueça. Gosta de afago mas também arranha.

Repare que há sempre uma mecha teimosa de cabelo: é o espírito selvagem que sopra em sua alma a refrescante sensação de estar unida à Terra. É daí que vem sua beleza e força. E sua sabedoria instintiva. Sim, ela é sábia pois está em harmonia com os ritmos da Natureza. Por isso conhece a si mesma, sabe dos seus ciclos de crescimento e não sabota a própria felicidade. Como todo bicho ela respeita seu corpo mas nem sempre resiste às guloseimas. Riponga do mato, gabriela brejeira? Não necessariamente, a maioria vive na cidade. E há dias paquera aquele pretinho básico da vitrine. E adora dançar em noite de lua. Ah, então é uma bruxa... Talvez, ela não liga para rótulos. Sabe que a imensidão do ser não cabe nas definições.
Segue...

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Livros sobre o tema:

O Legado da Deusa - Ritos de Passagem para Mulheres - Mirella Faur - 'O Legado da Deusa´ analisa o culto do caráter sagrado feminino ao longo dos tempos. A obra traz exercícios e práticas para facilitar o acesso à voz interior por meio da meditação, imaginação e introspecção; ensina e descreve como realizar rituais que celebram a feminilidade, determinam passagens e estágios, reconhecem e transmutam perdas e marcam a vida da mulher.»

Todos os nomes da deusa - Joseph Campbell - A Bíblia judaico-crista nos remete a um Pai Criador masculino, fonte de toda a vida. Porém muitas das primitivas histórias conhecidas da Criação falam sobre uma Grande Mãe: uma doadora e nutridora feminina da vida, a Deusa dos animais, das plantas, das águas, da terra e do céu. Em 'Todos os nomes da Deusa' , última obra de Joseph Campbell, são analisados os temas vigorosos, as raízes profundas e as inspirações mais intensas da humanidade. E, acima de tudo, ressalta o conceito fundamental que confirma a visão definitiva de Goethe: o Eterno Feminino nos impulsiona. »

As deusas em cada mulher - Jean Shinoda Bolen - Através dos arquétipos que moldam a existência feminina, a autora faz considerações a respeito dos padrões interiores femininos. Esses padrões são responsáveis pelas diferenças entre as mulheres. Compreender sua ação e inter-relação é a chave para o autoconhecimento e a busca de integridade.

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