Sunday, February 19, 2006
Caminhar
Kathleen Tessaro
Há qualquer coisa numa mulher que avança lentamente no meio do trânsito na hora de ponta. Tudo, toda a gente muda. E descubro que andar lentamente é uma das coisas mais poderosas que podemos fazer. É diferente de ser enferma ou deprimida. O vestido assegura-se de que estou direita, dá-me um ar de dignidade altiva, como se estivesse acima de preocupções mesquinhas como chegar ao trabalho a horas. Pareço estar a andar porque isso me diverte, não porque sou obrigada. E no mar de pedestres que se apressam à minha volta, tornei-me majestosa.
Já que vamos andar devagar, também não fará mal pôr um sorriso nos lábios. E é aqui que as coisas se tornam realmente interessantes. Os taxistas abrandam,ainda que o semáforo esteja verde, só para me deixar atravessar a rua; os polícias frente às Houses of Parliament dizem 'Bom Dia' e levam o dedo ao chapéu, e os turistas que se acotovelam frente ao Big Ben com as suas máquinas fotográficas arredam-se educadamente, como se de repente se vissem numa grande sala de estar e tivessem acabado de descobrir que me pertencia.
Sim, o mundo é a minha sala de estar e eu sou uma amável anfitriã que vem ver se toda a gente está bem.
Olho em redor. É outra das vantagens de andar devagar: muito tempo para ver tudo com atenção. O ar é delicado, a luz do Sol tonificante e benevolente. [...]
Está tudo bem. Está tudo mesmo bem.
'Elegância' romance de Kathleen Tessaro
(video)
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Adorei essa lição de elegância, que ñ é uma lição, é um modo de ser!
ReplyDeleteGeralmente andamos sempre demasiado apressados, Sheila e mesmo quando podiamos relaxar e apreciar já não o fazemos de tal modo estamos em piloto automático... bom, isto é mesmo no geral, porque conheço uma pessoa que procede do modo descrito no texto: observando e desfrutando amavelmente como se tivesse todo o tempo do mundo! :)
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