Thursday, April 09, 2009

leituras destes dias...

Romances sobre familias desfuncionais raramente é o meu género preferido...
Cenários, só se forem muito interessantes para me cativar!
Mas desta vez adoptei 2 livrinhos para leitura imediata -leia-se dias de páscoa, que têm o seu quê de incomum não falando do ritmo literário em ambos que gostei após uma olhadela rápida.

Enquanto as Velas Ardem de Tabitha King e Michael McDowell é um livro começado por Michael McDowell que faleceu em 1999 e o deixou inacabado. Foi concluído por Tabitha King. É portanto um livro a dois fôlegos. Está classificado como romance gótico
(ler 1º cap)



O Castelo de Vidro é uma obra autobiográfica da jornalista Jeannette Walls :

Eles não tinham condições de comprar presentes caros e não queriam que nós pensássemos que não éramos tão bons como todas as outras crianças que, na manhã de Natal, encontravam todo tipo de brinquedos bacanas debaixo da árvore, que eram, supostamente, deixados lá pelo Pai Natal. Então, eles nos contaram que as outras crianças eram enganadas pelos pais, que os brinquedos que os adultos diziam serem feitos por duendes que usavam chapeuzinhos com guizos em um ateliê no pólo Norte tinham, na verdade, etiquetas onde estava escrito “Made in Japan”.
— Tentem não desprezar essas outras crianças — dizia a mamã.

— Não é culpa delas se elas sofreram uma lavagem cerebral pra acreditar nesses mitos bobos.
Comemorávamos o Natal, mas, geralmente, uma semana depois de 25 de dezembro, quando se encontravam laços de fita e papel de embrulho em perfeito estado que as pessoas tinham jogado fora, e árvores de Natal largadas ao longo dos acostamentos das estradas que ainda tinham a maior parte das folhas e, algumas, até enfeites prateados agarrados aos galhos.

[...]
chegou o Natal, nós não tínhamos nem um centavo. Na véspera de Natal, o papá nos levou para passear de noite no deserto, um de cada vez. Eu estava enrolada em um cobertor e, na minha vez, eu quis dividi-lo com o papai, mas ele disse “não, obrigado”. O frio nunca o incomodava. Eu tinha feito cinco anos, e sentei do lado dele, e nós olhamos para cima, para o céu. O papá adorava falar sobre as estrelas. Ele explicava como elas orbitavam pelo céu noturno enquanto a Terra girava. Ele nos ensinou como identificar as constelações e navegar pela estrela Polar. Aquelas estrelas brilhantes, ele insistia sempre, eram uma das melhores coisas que existiam para gente como nós, que vivia na natureza. A gente rica da cidade, dizia, moravam em apartamentos chiques, mas o ar deles era tão poluído que eles nem conseguiam ver as estrelas. A gente teria que estar completamente maluco para querer trocar de lugar com eles.
— Escolhe a tua estrela favorita — disse ele naquela noite. Ele disse que eu podia ficar com ela para mim. Ele disse que era o meu presente de Natal.
— Você não pode me dar uma estrela! — falei. — Ninguém é dono de uma estrela.
— É isso aí — disse ele. — Nenhuma outra pessoa tem uma estrela. Basta você declarar que tem antes dos outros, que nem aquele carcamano do Cristóvão Colombo, que declarou que a América era da rainha Isabel. Declarar que uma estrela é tua tem a mesma lógica.
Pensei bem e cheguei à conclusão de que o papá estava certo.
Ele sempre descobria umas coisas assim.

[...]
— Ora bolas — disse papai. — É Natal. Podes ter o planeta que quiseres.

E ele me deu Vênus.

Naquela noite, durante o jantar, conversamos sobre o espaço sideral. O papá explicou o que eram anos-luz, buracos negros e quasares, e falou das qualidades especiais de Betelgeuse, Rigel e Vênus.
[...]

— Afunda ou nada! — gritou.

Pela segunda vez, eu afundei. A água mais uma vez invadiu meu nariz e meus pulmões. Esperneei e me debati até conseguir subir à superfície, buscando ar, e tentei alcançar o papá. Mas ele se afastou, e eu só senti as suas mãos me sustentando depois da segunda vez que afundei.

Ele repetiu os mesmos gestos de novo, e mais uma vez, até eu compreender que ele só me salvava para me jogar dentro d’água novamente. Por isso, em vez de tentar alcançar as mãos do papá, eu comecei a tentar me afastar delas. Eu o chutava e me afastava dentro d’água usando os braços e, finalmente, consegui me impulsionar para além do seu alcance.
— Você conseguiu, filhota! Você tá nadando! — gritou ele.
Arrastei-me para fora d’água e sentei sobre umas pedras calcificadas, com o peito arfando.
O Papá também saiu da água e tentou me dar um abraço, mas eu não quis nada com ele, nem com a mamã, que tinha ficado boiando o tempo todo, como se nada estivesse acontecendo, nem com o Brian ou com a Lori, que vieram até mim para me dar os parabéns. O papá ficava dizendo que me amava, que nunca me teria deixado na mão, mas que eu não podia passar a vida inteira agarrada à borda, que uma lição que todo pai tem que dar ao filho é que “se você não quer afundar, é melhor tentar descobrir uma maneira de nadar”.
(Jeannette Walls no youtube)
(ler 1º cap.)

8 comments:

  1. Xi, as minhas leituras do momento estão a léguas disto... tudo belos calhamaços técnicos. Boas leituras e boa Páscoa. Bjs *****

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  2. Boa Páscoa tambem, Lemniscata! :)
    Se é a área que tu gostas, qq calhamaço técnico vira paixão... rsss
    Bjs.

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  3. wickedlizard1:22:00 pm

    adorei as suas sugestoes... vou procurar!

    :)

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  4. Feliz Pascoa/Ostara, Isabel rss
    estou a dar preferencia ao "Castelo de Vidro" e é incrivel!
    ;)

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  5. achei lindissimo este texto !
    ausente há muitos dias , sem tempo para visitas aos blogs que mais gosto , aqui estou hoje procurando estrelas , planetas e tudo o mais que ocupa o Grande Espaço.
    Um beijo

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  6. os avisos e os posts nos blogs sempre dão resultado - o homemzinho acalmou-se e até vai passear com os cães e a comida e água nunca mais faltaram ...
    houve inquérito policial e não sei se outras sanções ...

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  7. que bom, Greentea!!!
    Sabes que mandei -já não é a primeira vez mesmo s/ este caso, um mail ao director da animal expondo a situação e realçando o escandalo de após repetidas denuncias nada ser feito?! tambem ia o recente link a descrever.
    resposta dele: continuem a insistir. É advogado e sabe do que fala. eu própria estou cansada de ver atrocidades, em animais -e não só, com muitas denuncias em que tudo continua na mesmissima...
    Incrivel e desolador.
    uma vida em perigo, agredida, devia ser prioridade máxima em tempo de atendimento.
    continuamos na luta. "agua mole em pedra dura"...
    Nao esquecer nunca de divulgar as assinaturas e petição online para novas e mais eficazes leis serem aprovadas na area animal:
    "Em audiência com o Presidente da Assembleia da República, ANIMAL entrega, nesta 5.ª feira, petição com 18.000 assinaturas reclamando ao Parlamento que estabeleça um código de protecção dos animais moderno, eficaz, progressista e justo"
    Ler mais: http://www.manifestoanimal.org/index.php?lang=pt

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  8. Em tempo: os podres mostrados em público por vezes funcionam: podemos oprimir/deixar que se oprima -se ninguem souber, mas se isso for sabido, mudamos o comportamento...
    Estranha espécie, a humana...

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