Quem diria que a já clássica saga cinematográfica de Ridley Scott , Alien, 8º passageiro , com Sigourney_Weaver no papel principal, poderia ser interpretado enquanto alegoria de uma iniciação feminina ?
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Vejamos a trama do roteiro de Alien.
Uma jovem é retirada de seu meio habitual — a Terra — para ser imersa em um ambiente selvagem, não domesticado — o espaço intergaláctico —, onde deve passar por inúmeras provas que a confrontam com o aspecto da feminilidade ao qual ainda não tivera acesso: a maternidade, que a aterroriza e que adquire para ela a forma horrenda de um monstro. Mas ela é levada a assumi-la progressivamente. Ao longo dos quatro episódios, ela se torna sucessivamente: ama-de-leite de um gatinho, mãe adotiva de uma menina, genitora de uma fêmea e de um macho não humanos. Ripley acabará incorporando o lado animal que a torna mulher. Para tanto, deverá submeter-se à última prova — a morte — para renascer das próprias cinzas totalmente metamorfoseada, ainda mais forte e feminina do que antes. Assim, torna-se capaz de abater definitivamente o dragão maternal, o que a autoriza a ser reintegrada à sociedade humana, retornando à Terra.
As iniciações masculinas e femininas que ocorrem em outros contextos culturais — bem reais — legitimam o acesso dos indivíduos a um papel procriador que lhes permite passar do status de criança ao de adulto, apto a ser pai (cf. Moisseeff 1992; 1995; 1998). A iniciação da heroína de Alien, ao contrário, a leva a recalcar seu papel materno: ela o incorpora, mas para melhor silenciá-lo, matando a própria progenitura que gerou. O simbolismo da morte e do renascimento da heroína, dramaticamente veiculado nos dois últimos episódios de Alien, é justamente o que caracteriza a iniciação masculina nesses outros contextos culturais: graças a essa prova, os homens se transformam na própria garantia da fertilidade feminina. Podemos perceber que, se o alvo das iniciações tradicionais e utópicas diz respeito ao futuro da função reprodutora, o tratamento a que se submetem adquire direções contrárias (Moisseeff 2003a; 2003b): no primeiro caso, cabe aos homens, os iniciadores masculinos, favorecer a expressão da maternidade; no segundo, cabe à mulher privar-se desta. Essa inversão simbólica reflete maravilhosamente a transformação das relações entre os sexos que se está produzindo nas sociedades modernas e ocidentais: não caberá à mulher pós-moderna, representada pela estrela de cinema Sigourney Weaver, adotar uma função materna imposta pelos homens, e sim, em uma posição de comando, participar do controle dessa função. As mulheres são vistas como os heróis do futuro, capazes de domar a reprodução.
Uma jovem é retirada de seu meio habitual — a Terra — para ser imersa em um ambiente selvagem, não domesticado — o espaço intergaláctico —, onde deve passar por inúmeras provas que a confrontam com o aspecto da feminilidade ao qual ainda não tivera acesso: a maternidade, que a aterroriza e que adquire para ela a forma horrenda de um monstro. Mas ela é levada a assumi-la progressivamente. Ao longo dos quatro episódios, ela se torna sucessivamente: ama-de-leite de um gatinho, mãe adotiva de uma menina, genitora de uma fêmea e de um macho não humanos. Ripley acabará incorporando o lado animal que a torna mulher. Para tanto, deverá submeter-se à última prova — a morte — para renascer das próprias cinzas totalmente metamorfoseada, ainda mais forte e feminina do que antes. Assim, torna-se capaz de abater definitivamente o dragão maternal, o que a autoriza a ser reintegrada à sociedade humana, retornando à Terra.
As iniciações masculinas e femininas que ocorrem em outros contextos culturais — bem reais — legitimam o acesso dos indivíduos a um papel procriador que lhes permite passar do status de criança ao de adulto, apto a ser pai (cf. Moisseeff 1992; 1995; 1998). A iniciação da heroína de Alien, ao contrário, a leva a recalcar seu papel materno: ela o incorpora, mas para melhor silenciá-lo, matando a própria progenitura que gerou. O simbolismo da morte e do renascimento da heroína, dramaticamente veiculado nos dois últimos episódios de Alien, é justamente o que caracteriza a iniciação masculina nesses outros contextos culturais: graças a essa prova, os homens se transformam na própria garantia da fertilidade feminina. Podemos perceber que, se o alvo das iniciações tradicionais e utópicas diz respeito ao futuro da função reprodutora, o tratamento a que se submetem adquire direções contrárias (Moisseeff 2003a; 2003b): no primeiro caso, cabe aos homens, os iniciadores masculinos, favorecer a expressão da maternidade; no segundo, cabe à mulher privar-se desta. Essa inversão simbólica reflete maravilhosamente a transformação das relações entre os sexos que se está produzindo nas sociedades modernas e ocidentais: não caberá à mulher pós-moderna, representada pela estrela de cinema Sigourney Weaver, adotar uma função materna imposta pelos homens, e sim, em uma posição de comando, participar do controle dessa função. As mulheres são vistas como os heróis do futuro, capazes de domar a reprodução.
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O texto é de Marika Moisseeff, titulado O que se encobre na violência das imagens de procriação dos filmes de ficção científica e começa tendo como base o Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley; segue para Alien e a autora aborda ainda outras obras de ficção cientifica
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