Sunday, December 03, 2006

Reaprender as coisas simples...



Um excelente tema. Quantas vezes esquecemos que felicidade e bem estar não se faz acompanhar necessariamente de poder de compra e consumismo?...

Daqui, um dos blogs do jornal Sol


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Costumo dizer que vir para África aos 40 anos é ter 20 anos outra vez. É o que sinto.

[...] Com filhos criados, com um novo desafio profissional, com um prazer enorme no olhar e na alma por este espaço, este povo, reaprendi a viver na simplicidade com o dobro do prazer. O dobro? O quíntuplo!

Isso não quer dizer que eu não tenha tido grandes prazeres nos 40 anos anteriores. Se tive! Mas hoje tudo rola a uma velocidade diferente, com um desprendimento maior do que é material e um prazer simples e apaixonado pelas pequenas coisas.

Há pouco tempo descobri que só tenho 3 pares de chinelos e que isso é a única coisa que calço todo o ano. Que nos ultimos dois anos só comprei uma saia e duas blusas aqui em Moçambique. Que a a maioria da roupa que visto tem mais de 10 anos (felizmente não engordei tanto assim, apesar de...), que os livros que leio, da Biblioteca do Centro Cultural Português têm, na generalidade, mais de 20 anos de edição, que deixei de ter a Fnac e passei a ter tertúlias de amigos e algumas exposições de arte. Que passei a conhecer os empregados de todos os locais comerciais onde me abasteço. Que conheço os meus alunos pelo nome e lhes dou boleia para casa. Que a fome está aqui ao lado e que não é possível mudar o mundo mas é possível mudar o nosso mundo ajudando com dignidade quem nos rodeia. Que o mundo em desenvolvimento não é só violência mas também trabalho e fuga da miséria. Que muçulmanos, cristãos e hindus podem viver juntos e respeitar-se. Que o meu jardim tem hibiscos de 3 metros. Que os meus rabanetes parecem nabos. Que tenho tempo para fazer petiscos para os amigos e para mim própria. Que tenho que esperar pela 3ª feira para ler a visão. Que é possivel andar dias seguidos com meia duzia de tostões no bolso. Que talvez haja um menino ou uma menina orfã moçambicana à espera dos meus braços.Que há cadernos feitos nos Emiratos Árabes Unidos. Que o Conselho Municipal tem uma máquina do tempo da II Guerra para tapar os buracos das estradas. Que fico contente quando se faz um parque de estacionamento novo no centro da cidade. Que a água do mar é quente e confortável.
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