Saturday, January 20, 2007

Outras leituras...


um livro de Zuenir Ventura

O livro de Zuenir Fonseca tem um título enigmático: Inveja. À laia de subtitulo, mal secreto e depois leva-nos em pregrinação através das páginas em demanda do que é isso da inveja.

Nas primeiras citações retiro uma de Francesco Alberoni: Podemos descrever o nosso ódio, o nosso ciúme, os nossos medos, as nossas vergonhas. Mas não a nossa inveja.

Ao olhar as primeiras páginas, sorri: a inveja é um virus que se caracteriza pela ausência de sintomas aparentes. O ódio espuma. A preguiça se derrama. A gula engorda. A avareza acumula. A luxúria se oferece. O orgulho brilha. Só a inveja se esconde.

Ou: ' o verdadeiro amigo não é o que é solidário na desgraça, mas o que suporta o seu sucesso'

O autor leva-nos com ele ao longo de alguns meses entre assuntos pessoais, uma história paralela e a busca de material para um livro que se comprometeu a escrever, um de uma série de sete, em que cada autor convidado escolhe um pecado capital. Zuenir escolheu a inveja e procurou definições e actuações junto a antropólogos, Mães de Santo, e cidadãos comuns...

[...] um quadro naif de Jesus Cristo ameaçava expulsar um poster de Paul Klee. A incongruência iconográfica parecia ser o correspondente estéctico do sincretismo religioso que eu iria encontrar no quarto, para onde Rivaldo e Lia me conduziram a seguir.
[...]
Aquela filha de pai alemão e mãe francesa, ou seja, produto do casamento do rigor com a razão, acreditava na força das orações, fazia uso de objectos e amuletos [...]
[...]
Já estamos saindo do seu quarto e ela vai me contando que não deixa de ter em casa um pedaço de enxofre, tres pedrinhas de sal, e folhinhas de arruda que renova a cada sexta-feira. Sempre que possivel há tambem rosas vermelhas, excelentes para absorver a energia negativa dirigida aos moradores
[...]
Com a mesma segurança com que fala da influência que a Bauhaus de Weimar, 'na fase Walter Gropius', exerceu sobre a estética moderna, Lia discorre sobre a energia misteriosa que um dia, dentro de sua casa, quebrou copos, estilhaçou um vaso com uma bela orquídea e estourou uma garrafa de vinho na geladeira -tudo ao mesmo tempo.

Quando no domingo expus o meu espanto, tanto Rivaldo quanto Ruben consideraram antropologicamente natural o que eu, pobre incréu, achei extraordinário. 'Lia é tão perceptiva quanto um artista, justificou o marido. 'Ela fala de um nível que é anterior aos factos.

Eu ia dizer o quê?
*

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