Wednesday, June 02, 2010

"Alex e eu", de Irene Pepperberg




Um livro de Irene Pepperberg que conta as muitas dificuldades e escolhos - mas também vitórias, que encontrou no decorrer do trabalho cientifico que se dedicou durante três décadas junto com Alex, um papagaio Cinzento.

O trabalho de Irene Pepperberg

Os linguistas evidenciavam um mal-estar cada vez maior relativamente à afirmação que estes animais tinham demonstrado uma capacidade rudimentar para a linguagem.
[...]
[em Maio de 80] houve uma reunião de importantes cientistas organizada para denunciar o trabalho de investigadores de linguagem animal: parte do preconceito que "eles" não podem falar - só nós podemos. [...] Tambem me apresentei a alguns dos mais novos investigadores neste campo tais como Diane Reiss, especialista em comunicação com golfinhos.
A Diane e eu tornámo-nos instantaneamente amigas por longos anos. Ela e eu tínhamos consciência do ataque ao nosso campo que se estava a aproximar. Mas nenhuma de nós estava preparada para a tmosfera altamente tóxica que pairava sobre as elegantes salas do New York's Roosevelt Hotel durante esses dias extremamente tensos.
[...]
No relatório que Diane entregou ao seu departamento ela escreveu: "A conclusão que podemos tirar é perguntar se os cientistas conseguem conversar uns com os outros, quanto mais com animais."
[...]
Começaram a haver mais pessoas no departamento dispostas a apoiar abertamente o nosso
trabalho "marginal" e as nossas ideia, mas nunca deixou de haver mais ou menos caluniadores reivindicativos. [...]
Juntos, o Alex e eu, havíamos de lhes mostrar o que significa realmente ter um cérebro de passarinho.
*
Como todos os cinzentos, o Alex era muito empático. Sentia quando eu estava especialmente triste. Nesses momentos, instalava-se junto de mim e limitava-se a ser o Alex. Não o Alex diabinho travesso; não o Alex o patrão do laboratório; não o Alex o exigente. Apenas Alex, a presença empática. Às vezes dizia "coça" e inclinava a cabeça para eu coçar.

*
Uma das minhas preocupações de sempre era descobrir formas de impedir que os papagaios de estimação se aborrecessem, o que era um problema muito comum
Eles são criaturas extremamente sociáveis e muito inteligentes. Se não tiverem uma acção constante e coisas para fazer, entram em stress, muitas vezes a ponto de se tornarem psicóticos. Podem chegar ao ponto de começarem a arrancar as penas. Muitas pessoas que tem Cinzentos e outros papagaios como animais de estimação não valorizam este aspecto nas suas aves. É muito cruel deixa-los numa gaiola sozinhos durante em dia todo . Fiz muitas conferencia em clubes de avicultura sobre este problema.
[...]
"É como colocar uma criança de quatro anos num parque de manhã e deixa-la ficar lá o dia inteiro, sozinha", disse eu. "É claro que ela estaria zangada e perturbada quando chegassem a casa. O mesmo acontece com os papagaios."
*
Eu, pessoalmente, não estou muito interessada em religião organizada. Mas acredito com todas as minhas forças na unidade e na beleza do mundo que o Alex ensinou à Deb e me ensinou a mim. A minha filosofia de vida é baseada na apreciação da natureza holística do mundo, cujas sementes foram plantadas na minha infancia, e ali deixadas pelo Sem-Nome e pelo amor da natureza a que essa ave me conduziu. A minha "religião" é por isso muito mais semelhante à sabedoria dos nativos americanos do ser e do pertencer, da igualdade e responsabilidade com e pela natureza.

Quem sabe que outras coisas espantosas poderíamos ter visto através da nossa janela para a mente do Alex se ele tivesse continuado connosco?

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