Tuesday, June 21, 2005

Os fantásticos gatos-vaquinha ou história de um resgate



Parte I - História de um resgate

De vez em quando acontece-me estas coisas...

A verdade é que eu não fujo nada delas, pelo contrário.
A casa está diferente e os meus três gatinhos residentes andam consideravelmente desassossegados.
Tudo porque um resgate felino que demorou quatro dias a chegar ao seu termo teve ontem de manhã um happy end, assim espero.

16 de Junho, hora de almoço - ouço um gatinho miar. Espreito para debaixo de um carro e vejo-o: é mínimo. tem 4 luvinhas brancas, parte da frente do focinho, pescoço e peito de brancura imaculada, o resto é negro. Um delicioso gato vaquinha! Tem muito tónus e belos pulmões, mia mas não se deixa apanhar: enfia-se por baixo para o interior do carro que está á beira de uma estrada e felizmente ali vai ficar pelos vários dias seguintes...De regresso após o almoço, deixo comida e agua e tento mais um vez apanha-lo sem sucesso. A cena é a mesma ao fim da tarde e já muito noite quando me desloco de propósito, acompanhada, mas sem mais sorte que de dia...

17 de Junho - os mesmos passos repetem-se, começando logo de manhã; pelo menos agua e comida eu providencio e ela desaparece rápido se me afastar, mas há demasiada coisa a preocupar-me para me poder sentir tranquila: se o carro arranca com ele lá dentro?! o calor está uma brutalidade, como vai resistir?! e se vai para o meio da estrada de noite?! Nada a fazer, já falei com meio mundo, ninguém sabe de onde veio, não é de ninguém e ninguém quer. Apesar de tudo várias pessoas interessam-se por ajudar e tentam apanhar: mas não conseguem. Eu já fiz de tudo, já me deitei ao comprido no chão para tentar alcançar o bichano, com espanto de quem passa e não sabe o motivo... alguns deixam leite e pão molhado, que começa a atrair moscas.
Estamos à beira de um fim de semana, deixo o meu número a quem se oferece para tentar resgatar, no caso de conseguir.

18, sábado - vou lá de propósito. Alguém deixou leite mas não há sinal do gato, nem se ouve. Será que finalmente conseguiram o resgate?

19, domingo - repete a cena de sábado, mas aparentemente ninguém deixou comida. Deixo eu, como sempre. Não ouço/vejo rigorosamente nada. Começo a duvidar que ainda lá esteja.
E começo a ter pensamentos considerando todas as possibilidades, mesmo as que eu gostaria de excluir em absoluto.

20, Segunda de manhã - passo quase por teimosia no mesmo local convencida que vou ter os mesmos resultados do dia anterior. Vou-me aproximando e chamando, nada... olho entre os dois carros e sobressalto-me: ele está lá, completamente prostrado, cabeça caída, os olhos olham os meus, abre a boca: não sai som nenhum. Agarro-o e levo-o ao peito, está completamente inerte, pendurado como um saco vazio. Corro para o trabalho enquanto falo com ele

Parte II - Os fantásticos gatos-vaquinha

Análise: desidratado, um bocado anémico: mucosas, língua, etc demasiado claras. Está fraquíssimo, não anda, arrasta-se. Simplesmente não levanta a parte de trás do corpo por fraqueza, quando levanta, cai logo. Não tem lesões, aparentemente. Está sujíssimo. Um pouco de água por fora; o leite disponibilizado por uma colega foi bebido a grande velocidade. Uma comidinha de lata foi devorada. Parece que não é preciso ir a soro: ainda está suficientemente forte para se alimentar vorazmente. Cai no sono. Só acorda para comer e dorme de seguida. Recupera forças durante o dia numa caixinha. Talvez uma colega o queira levar. Afinal não, o marido gosta mas opõe-se: já têm uma gata, mais não...

Assim só há uma solução, que sou eu. Reparo na temperatura dele, dele não, dela, descobri que é uma menina! A respiração é muito acelerada, tem febre.

Em casa tenho solução para tudo... que começo a pôr em prática mal chego com um bom banhinho incluído

A reacção é óptima. Hoje, dia 21 já brinca, já caminha pela casa toda mas sobretudo dorme... e está com muito melhor aspecto. Tem uns olhos muito ternos, tranquilos, quase filosóficos nas suas três semanitas de vida - cálculo meu - e gosta de ficar perto de nós observando tudo, ronronando prodigiosamente.

Quando tiver uma máquina -que teima em não vir (GRRR) haverá fotos da... como será mesmo o nome dela?

Ainda não sei se irá para adopção, se vai ficar por aqui...*
*

2 comments:

  1. Achei linda a tua história. A minha casa tb é um pouco assim. Tenho um cão, um gato e o meu pai tem mais uns quantos pássaros. Tudo adoptado. Vieram parar cá a casa e acabámos por ficar com eles.
    Este semana uma gata "vadia" resolve ter uma ninhada de 3 gatos no meu quintal. Acho que vou ter de ficar com mais 3 gatinhos e uma gata. Que confusão!
    Andamos a tentar levá-los para adopção, mas são tão fofos que dá vontade de ficar com todos!
    Beijos, Marian!

    ReplyDelete