Monday, March 13, 2006

Mais um livro!



Livro de Robert Vigouroux -neurologista, psiquiatra, professor e investigador no Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), dedicado à tentativa de destrinçar o que é o belo, o que produz a emoção de belo, patologias mentais e ainda assim a produção do belo...
a percepção, o sistema nervoso e aspectos neurológicos.

Grandes criadores de emoção estéctica em vários campos são analisados:Dostoievski e Van Gogh, Flaubert e Mozart, são alguns deles, todos fortemente condicionados por problemas neurológicos e vidas díficeis mas que deixaram legados artistícos de grande impacto.

Abertura:

Caída a noite, a turba de turistas evaporou-se.
Fiquei só no meio da grande praça de Tikal, a Plaza Mayor, dominada pelos volumes cinzentos das pirâmedes do Grande Jaguar e das Máscaras, de vertiginosa inclinação. O labirinto de edifícios da acrópole norte frente ao qual se erigiam misteriosas estrelas, daí a pouco desaparecia na penumbra. Distinguia-se ainda um pouco mais longe, a luxuriante vegetação da floresta tropical, universo hostil de lianas, palmeiras, fetos, arbustos de toda a espécie, cajueiros, cedros e sapotaias entrelaçados. O cume luminoso de um templo sobressaía da fronda. Macacos berravam, misturando os seus gritos aos dos pássaros
[...]
Que penetremos numa igreja românica ou numa catedral gótica, que visitemos diferentes museus do mundo, de Veneza, de Florença, de Roma, de Londres, de Nova Iorque, da Cidade do México, por todo o lado, surgem imagens, cores, formas. Cada um de nós, francês, inglês, italiano, alemão, americano ou japonês, contempla e questiona-se.

Na solidão húmida da floresta tropical, senti uma indizível fraternidade unindo-me a todos os meus semelhantes de qualquer origem, quer estejam mortos ou vivos. A arte é comunhão e amor. As ideologias, nacionalidades, as divergências pessoais apagam-se. O tempo deixa de ter sentido.
Descansarei sem angústia no imenso cemitério onde jazem os criadores de eternidade
*

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