Wednesday, March 01, 2006

A moral vista como controle



Parece um assunto muito básico, de todos mais que sabido.

Mas há coisas que nunca são de mais relembrar...

As normas que constituem o código moral de uma dada sociedade são geradas pelas necessidades do estabelecimento de limites à conduta individual. O objetivo é de evitar grandes tensões internas no grupo, a partir do anseio de certas pessoas de se sentirem elevadas por um comportamento de acordo com as expectativas das divindades.

Nunca é demais registrar que muitas das regras sociais se constroem com a finalidade de preservar privilégios para um pequeno grupo que detém o poder. Ou seja, nem sempre as regras chamadas de “código moral” são efetivamente justas - de fato, são quase sempre injustas. E não é raro que estas minorias inteligentes e oportunistas usem todo o tipo de argumentação falsa - mas de aparência lógica - para justificar as arbitrariedades cometidas sobre grandes massas. Assim, um sistema monarquista pode se atribuir dignidade e respeitabilidade se conseguir provar que é esta a vontade divina; padres inquisidores podem matar em nome de afirmar a fé cristã sobre a terra, sendo que processos similares podem ser usados séculos depois para a “implantação” do socialismo, e assim por diante. Pais de família podem exigir recato máximo e “pureza sexual” de suas filhas e ter como amante sua secretária, da mesma idade que elas, para se dar um exemplo ligado à questão sexual, que é a razão principal destas observações.
[...]
As normas são construídas por criaturas mais sofisticadas, em função de suas convicções religiosas, e de suas sensações psíquicas ligadas aos sentimentos de culpa. São modificadas e deturpadas por pequenos grupos que se encarregam de fazer a maioria se comportar segundo elas e eles próprios não as seguem. Assim, a obra inicial dos humanistas é devidamente transformada em instrumento de dominação de minorias inteligentes e pouco escrupulosas. E tudo fica tão confuso, tão misturado com verdades capazes de sensibilizar os bons espíritos, que é fácil iludir a população em geral, em benefício próprio.
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Texto de Flávio Gikovate

achado
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