Friday, April 08, 2011

"Conhecermo-nos ou viver uma ilusão..."

(imagem de outro excelente artigo no mesmo link)

É quase certo que todos temos ouvido falar da cantora-fenómeno. Há um ano saltou para a fama internacional ao cantar “I dreamed a dream”, como concorrente no programa de televisão britânico de caça talentos Britain´s Got Talent. O brilhante contraste entre a sua aparência e a sua voz produziu o “milagre”. O que este mundo cruel considera mais odioso e temido: perda de juventude física, volume corporal e falta de versatilidade, para nos movermos como um peixe na agua nos diferentes cenários; Esta senhora escocesa de sangue irlandês de 48 anos reunia tudo isto. Pelo que atraiu clara animadversão e cepticismo no júri e no público… Mais ainda quando disse que o seu “sonho” era cantar como Elaine Paige. Frente à chacota e incredulidade do público, como se fosse um marco negro e frio, a voz de Susan Boyle rasgou o silêncio como uma estrela de prata traçada por uma distante e sonhada estrela, como a que descreve Saint-Exupéry no “O Principezinho”: um hino de juventude, de beleza e vida… uma voz como poucas na história.(*)
O resultado? Esta actuação foi a mais vista na internet, com mais de 300 milhões de reproduções no Youtube, e o disco gravado por Susan Boyle, com o mesmo título da canção I dreamed a dream foi o mais vendido de 2009, mais de 10 milhões de cópias até agora.

Há muito que reflectir neste sucesso, que pode ser interessante voltar a ver na internet. Por exemplo, em que medida vivemos numa dimensão quase exclusivamente visual, e os nossos juízos surgem do que aparece ante os nossos olhos, ainda que isto seja, precisamente, só uma aparência. Somos quase unidimensionais, pelo que a nossa mente se estreita cada vez mais. No momento em que fechamos os olhos, por exemplo, entramos numa outra dimensão tão maravilhosa como geralmente inexplorada, a dos sons, com diferentes padrões de beleza. É outro universo, que pouco ou quase nada tem a ver com o visual tocar as cordas da nossa alma mais intimamente, de um modo mais atemporal que as cores e formas… e ainda está a dimensão das sensações tácteis, dos gostos ou do universo dos perfumes… e recordamos com Buda que o mais inigualável de todos os perfumes é o da virtude.

A beleza de uma voz não depende de se a pessoa é nova ou velha, gorda ou magra, bonita ou feia e podemos sentir a nossa alma inundada desta beleza fazendo que o nosso olhar ante esta pessoa seja novo, mais puro, mais nobre.

E se temos falado de dimensões visuais, universos de sons ou de perfumes, meditemos sobre como deve ser o Reino da Inteligência, o que percebe a nossa alma, mais além de toda a sensação, de toda a memoria, e que de um modo tão admirável descreveu o filósofo Plotino. Este sabio dizia-nos que todas as outras dimensões são mais ou menos enganosas, pois sempre são filhas do momento, mas no Reino da Inteligência não cabe a mentira, pois encontra-se conformado com a essência de tudo quanto vive.

Porque é tão importante conhecermo-nos a nós mesmos? Muito simples. É o único modo de penetrar cada vez mais neste Reino da Inteligência em que nada é diferente do que parece e no que tudo espera a mais íntima, pura e perfeita das realizações.

(Publicado no blog da Nova-Acropole)


(*) Essa mesma magnifica voz a interpretar Memory, do musical Cats

* * *
**a não perder: um interessante exercício, Digital Painting -ao som de bela melodia, em que e restituído a Susan Boyle o provável aspecto que poderia ter se outro tivesse sido o percurso de vida.

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