Sobre DSK, um dos incontornáveis assuntos do momento, na manhã de domingo imediatamente a seguir ao sucedido, tracei algumas reflexões que posteriormente optei p/ não publicar, onde discorria sobre o caso preservando o óbvio: saber se é verdade ou não! Terminava dizendo que não me surpreenderia muito fosse qual fosse o caso. E ainda não mudei a perspectiva.
A verdade é que nesta história a óbvia falta de capacidade e tacto da personagem principal em manter a sua imagem publica em bom estado, especialmente tendo em conta o seu percurso e planos mais imediatos, chega a ser confrangedora... Procedendo assim, quem precisa de inimigos?!
Por outro lado, -e se realmente se confirma o perfil apontado como verdadeiro, o que produz um movimento que tende a aderir à teoria da conspiração e inocentar DSK? Que clama por contenção e discrição como se tivéssemos todos de andar com muito cuidado p/ não estragar a reputação do senhor quando o próprio nunca teve esse cuidado?
Da parte de algumas cabeças supostamente pensantes havia um escândalo subliminar que mal conseguiam disfarçar... Por DSK ser quem era? Por estarem habituadas a tolerar o que nunca devia ser tolerado e mascararem assédio e agressão -sinais de personalidade mal estruturada e autoritária, com... sedução?
Aliás , porque comportamentos de género tão profundamente errados como os exibidos segundo parece ao longo do tempo, por ele, são tolerados e aceites numa pessoa em caminhada acelerada para o poder mediático e para se tornar no máximo representante de um pais europeu?!
A verdade também é que sempre achei interessante a rapidez com que as pessoas se filiam numa opção como se o mundo fosse a preto e branco e a maioria das coisas que acontecem nao fosse mais para cinza...
Acho que na maioria das vezes o resultado final das coisas que procuramos compreender, é o produto de uma soma de infinitos factores -alguns dos quais desconhecidos dos avaliadores...
A verdade inegável e que no caso, a fama que o precede nao abona nada sobre ele...
E que não me admirava que fosse tudo verdade...
ou não!
Na Visão...
e no jazza-memuito:
Num texto de defesa a Dominique Strauss-Kahn, Bernard-Henri Lévy pergunta o que estava a fazer uma camareira sozinha num quarto de hotel em Nova Iorque, quando é normal a limpeza ser feita por «brigadas» de pelo menos duas empregadas. A resposta é dada no New York Times, por Maureen Dowd, que afirma ter ficado no Sofitel várias vezes e diz ser costume haver apenas uma empregada por quarto. A defesa de Henry-Lévy aproveita um elemento da teoria da conspiração que colocaria Strauss-Kahn no papel de vítima inocente de uma armadilha cuidadosamente armada pelos seus inimigos e potenciais adversários nas próximas eleições. A um mês de ser apontado como o candidato que disputaria a Presidência com Nicolas Sarkozy, Strauss-Kahn é detido em Nova Iorque na sequência de uma acusação de agressão sexual a uma empregada do hotel Sofitel em Times Square, levado algemado pela Polícia a tribunal com o mundo inteiro a assistir. A acusação começou por ser negada por Strauss-Kahn. Pouco tempo depois, a defesa alegava que a relação fora consensual. Dias depois, Strauss-Kahn demitia-se da Presidência do FMI. Ao mesmo tempo, relatos de conduta idêntica vinham à tona e cada vez mais o amigo de Henry-Lévy parecia culpado. O caso da jornalista de Tristane Banon contribuiu para esclarecer um certo comportamento. Tinha 22 anos quando, em 2002, o entrevistou para um livro. A experiência acabou numa tentativa de agressão sexual.
O Presidente do FMI foi recentemente descrito por Tristane Banon como sendo «um chimpanzé com cio». O caso foi abafado com a ajuda da própria mãe da vítima. Sucedem relatos similares sobre a conduta de Strauss-Kahn.
Resta saber quantos terão sido desculpados e interpretados como «sedução» pelos amigos.
Vivemos num país em que um psiquiatra é absolvido por violar uma paciente e em que o violador de Telheiras pode escrever impunemente às suas vítimas.
O que aconteceria se o Presidente do FMI tentasse violar uma empregada de hotel em Portugal? A acusação a Strauss-Kahn foi uma surpresa? Haverá uma conspiração?
(texto em ítálico de Carla Hilário Quevedo, daqui)