Friday, May 13, 2011

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Um livro escrito por Júlio Borja em tom leve e irónico e dedicado aos seus companheiros felinos Cícero, Átila e Zoya! ;-)

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Flashback n.º 5: séculos XII a XVII - a coisa dá para o torto...

A partir do séc XII, a igreja - particularmente empenhada, na época, numa longa e bem sucedida campanha de bestialidades acéfalas (entre outros afazeres mais piedosos e construtivos) - passa a ver o gato como símbolo, por excelência, dos piores desvios e vicios humanos. De um dia para o outro, o gato passa a ser maléfico, falso, lúbrico, prenuncio de morte, - incarnação do diabo! O próprio Gregório IX, em 1233, na bula "Vox in rama", descreve e condena as práticas atribuidas aos "idólatras do gato satânico". Antes tivesse partido as duas pernas nesse dia, ou apanhado uma diarreia daquelas de caixão à cova, mas não - pegou na pena e pôs-se a inventar. Azar dos gatos.

Do fim do século IX até ao século XVII, a rapaziada da Inquisição - sempre ansiosa de mostrar serviço a espetar, queimar e rasgar carne (humana ou não), ao serviço da Santa Madre Igreja - decide lixar a vida ainda mais ao gato e associá-lo a supostas orgias e banquetes antrópofagos (comiam-se criancinhas...) perpetrados por "heréticos", "feiticeiros" e sobretudo "feiticeiras".
É claro que o gato era elemento secundário do processo, pretexto para dar cabo do canastro a cátaros, Valdenses, Templários, mulheres solitárias e outros "alternativos", percusores do
"todos diferentes, todos iguais" que nasceram numa época errada para seu próprio bem. - mas essa já é outra história. O que é certo é que a tal ideia não tinha mesmo pés nem cabeça: como toda a gente sabe, os gatos, ao contrário dos comunistas, nunca gostaram de comer criancinhas, e sempre preferiram, de longe, uma bela ratazana gorda de esgoto ou uma sardinha fresca roubada na lota, como está bem de ver.

... apesar de tudo, naqueles cinco séculos ainda houve uma meia dúzia de gatos que se safou).
Daqui para a frente foi sempre a subir, com os grandes nomes do período romântico, fascinados com o potencial emblemático do bicho, a trazerem o gato aos ombros para o pedestal de encantamento do nosso imaginário comum... de onde, preguiçosa e doutamente, nunca mais levantou o real e preguiçoso traseiro.


(in Vossa Excelencia Chamou? de Julio Borja)



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O livro acima fala de gatos... que os olhos encontram nesta cena.

Porque gosto de Corto Maltese, importei a imagem que acho muito bela.

(encontrado aqui.)

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