Thursday, May 12, 2011

"Lições de Um Planeta Ancião"



Nos EUA, comemorou-se a 22 de Abril de 1970 pela primeira vez o Dia da Terra. Actualmente, este dia é comemorado globalmente e coordenado pela Earth Day Network (www.earthday.org). O Partido pelos Animais e pela Natureza (PAN) associa-se a esta comemoração, sublinhando as lições que podemos tirar dos padrões organizativos do nosso planeta.

Há cerca de 4,6 mil milhões de anos, através de um processo de acreção (agregação de partículas por acção da gravidade) de fragmentos provenientes da nébula solar, formou-se um novo planeta cuja história estava ainda por vislumbrar. Cerca de 30 a 50 milhões de anos depois da sua formação surge a Lua. Existem várias teorias que explicam a formação da Lua, mas a que tem maior aceitação no seio da comunidade científica é a teoria do Impacte Gigante: um corpo rochoso do tamanho aproximado de Marte chocou com a Terra provocando a sua fragmentação e a formação da Lua, que, por acção da gravidade, ficou em órbita em torno da Terra. Inicialmente a Terra não possuía qualquer tipo de atmosfera porque a sua superfície era demasiado quente e a gravidade não era suficiente para reter os gases, que se escaparam para o espaço. Foram precisos mais 150 milhões de anos para que a crusta arrefecesse e os gases libertados por vulcões se fixassem ao planeta. A atmosfera inicial não continha oxigénio; era composta essencialmente por azoto, vapor de água e dióxido de carbono.


O vapor de água caiu para a Terra sob a forma de chuva e formaram-se os oceanos. Estimulada pelas radiações fortemente energéticas do Sol, pelas descargas eléctricas dos relâmpagos e pela energia térmica dos vulcões, formaram-se, nas diversas camadas da atmosfera, moléculas complexas que foram arrastadas pelas chuvas e constituíram o caldo primordial. A Lua, na época muito mais próxima da Terra, agitava os oceanos num frenesim de que as marés vivas actuais são apenas uma vaga lembrança e homogeneizou o caldo. Estavam criadas as condições e há cerca de 4 mil milhões de anos surgiram as primeiras formas de vida que evoluíram, e continuam a evoluir, ao longo das eras. A história da evolução da Terra é a história do desenvolvimento de um organismo.

No século XIX, a 24 de Novembro de 1859, Charles Darwin publicou o livro intitulado On the Origin of Species by Means of Natural Selection1. Nesta obra o naturalista delineia as principais ideias que deram origem ao evolucionismo. Porém, uma ideia que Darwin nunca defendeu prevaleceu, sobretudo nas concepções menos informadas, no evolucionismo: a ideia da competição e do sucesso do mais forte. Na verdade, o que Darwin defendeu foi o sucesso do mais apto e, frequentemente, o mais apto não é o mais forte. Em determinadas circunstâncias, o mais apto pode ser o que mais partilha, o que melhor cuida do mundo que o rodeia. Se assim não fosse, a vida seria sempre uma aventura solitária e, muito provavelmente, a reprodução sexuada e a vida em colónia comunitária nunca teriam tido o sucesso ecológico que testemunhamos.

Na verdade, quer nas mais pequenas estruturas vivas — como as células que constituem o nosso corpo — quer nos grandes ecossistemas, os processos simbióticos são o sustentáculo da sua robustez e evolução. Cada uma das nossas células possui um número determinado de mitocôndrias com ADN próprio distinto do ADN humano. Há milhões de anos a mitocôndria era um organismo vivo autónomo como hoje o são as bactérias. Porém, a determinada altura do seu processo evolutivo, passou a viver e a multiplicar-se no interior de outro ser vivo — a célula eucariota — originando o aparecimento de um novo organismo mais complexo. Trata-se de uma associação simbiótica onde a célula recebe o alimento processado pela mitocôndria e esta encontra habitáculo e protecção. O mesmo se passa com os cloroplastos das células vegetais ou mesmo com os organismos multicelulares.


O número de espécies de bactérias e fungos que habitam no nosso corpo é superior a 2000, e muitas delas são de uma importância fundamental para a nossa sobrevivência, como, por exemplo, as bactérias e leveduras do tubo digestivo humano, sem as quais estaríamos impossibilitados de digerir os alimentos.

Organismos e ecossistemas confundem-se. Da mesma forma que a selva tropical é o ecossistema de diversos seres vivos, a célula animal é o ecossistema da mitocôndria e o corpo humano é o ecossistema dos milhões de bactérias que nele se desenvolvem. Nesta perspectiva a Terra é simultaneamente um ecossistema e um organismo e, ao invés de habitantes, nós humanos somos um dos seus muitos constituintes.

Porém, sendo o PAN um partido político, o que é que esta lição de ecologia tem a ver com medidas políticas e com a governação de um país? Na nossa perspectiva, tudo.

Numa altura em que as únicas preocupações dos políticos parece serem a economia, em que instituições não eleitas democraticamente, como as agências de rating, destroem economias de nações e os interesses do capital se sobrepõem à soberania nacional e ao bem-estar das populações humanas e não humanas; numa época em que podemos contar com mais de um século de uma relação de predação do mundo natural por parte dos humanos e onde a crise ecológica é relegada para segundo plano e onde prevalecem os interesses de uma minoria que domina a alta finança mundial, faz todo o sentido olhar para o mundo natural para compreender e mimetizar os seus padrões organizativos. É uma sociedade da simbiose que está subjacente às ideias do PAN; uma sociedade onde todos — humanos e não-humanos — possam desenvolver em pleno as suas capacidades e criar as condições para a sua felicidade sem que esta se faça à custa da felicidade dos outros. Uma sociedade que reconheça o valor intrínseco do animal humano, do animal não-humano e do mundo natural; uma sociedade que valorize a cultura, a arte e a ciência enquanto expressões sublimes de um constituinte particular deste planeta — a espécie humana; uma sociedade que termine com a relação de exploração e parasitismo do mundo humano sobre o mundo não-humano e que promova uma cultura da simbiose onde o que recebe é também capaz de dar; uma sociedade que visa alcançar, não domínios, mas antes harmonias com o mundo natural; uma sociedade inteira, uma sociedade do todo. Uma sociedade capaz de dizer BASTA à exploração e ao sofrimento causados tendo por único fim a satisfação de necessidades artificiais que a ganância e a avareza de alguns impõem a todos.

Nós, humanos, quando olhamos para a crise ecológica, temos a tendência para agir pelo medo e não pela empatia. Afirmamos ser importante combater o aquecimento global porque terá graves consequências para a agricultura, porque há o perigo de derreterem as calotes polares, ou por qualquer outra razão antropocentrada. A qualidade da água é importante porque sem ela poderemos contrair doenças e perder qualidade de vida. Na perspectiva do PAN, não é esta a forma mais adequada de repensar a crise ecológica. Sem esquecer as necessidades humanas, é na empatia com o outro que consideramos que deve ser colocado a ênfase; e o outro não é apenas o vizinho da casa do lado, do país irmão ou do continente distante. O outro são todos os outros; todos os organismos que constituem este planeta; organismos vivos, é certo, mas também rios e oceanos, lagos e glaciares, planícies e montanhas, florestas e desertos. É pela preocupação com o outro que defendemos os desfavorecidos, mas é também pela preocupação com o outro que defendemos os direitos dos animais não-humanos; porque nos identificamos com o seu sofrimento e criamos empatia com eles. Como seria se conseguíssemos sentir empatia com a Terra e compreender também o seu sofrimento?

Temos de ser esta mudança. Uma mudança na forma como vemos e nos relacionamos com a Terra, não porque ela nos é útil, mas simplesmente porque somos seus constituintes. Somos parte de um todo de uma forma tão íntima como as nossas vísceras são parte de nós. Queremos, no PAN, ser uma força viva inteira e holística que valoriza a empatia, o amor e a compaixão e convida todos os portugueses a reflectir e a dar valor aos valores que interessam.


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