Tuesday, December 21, 2004

Realidade: Femícidio



... violência emanada de mulheres contra mulheres ou com o seu consentimento, sendo que uma parte destas manifestações de violência estão estreitamente ligados ao baixo estatuto simbólico e social das mulheres.

É o caso dos abortos selectivos dos fetos femininos, da eliminação de meninas (prática muito frequente na China, na Índia e na Coreia), das mutilações genitais em África, do assassínio de noivas na Índia, devido ao dote matrimonial e das redes de prostituição infantil e de mulheres adultas, nacionais, europeias e intercontinentais algumas das quais geridas por mulheres.

... o femícideo abrange actualmente novas formas, mais subtis, iniciando-se dentro do ventre das mães. Na China, onde vigora a política do filho único, dado que os casais [por condicionamento cultural] preferem ter rapazes, é frequente os fetos femininos serem abortados. São identificados devido à expansão da técnica da ecografia durante a gravidez.

Já há assim um défice de 38 milhões de mulheres na população. Estes dados também vêm referidos no Relatório Coomaraswamy.

Na Índia, o programa de planeamento familiar não é tão impositivo. Mas os casais também preferem ter rapazes, porque de acordo com a tradição e os costumes, uma rapariga quando casa tem de levar um dote, o que representa um encargo económico pesado para família. Neste país faltam 30 milhões de mulheres. Numa só clínica de Bombaim realizaram-se, em 1984, 8000 abortos dos quais 7999 eram fetos femininos.

Em ambos estes países, mas igualmente noutros países asiáticos, também é comum o infanticídio ou abandono dos bebés do sexo feminino no momento do parto.

...Outras formas ainda mais subtis de violência, mas igualmente mortíferas, são os menores cuidados nutricionais, emocionais e de saúde em geral prestados ás meninas.

No prolongamento destes femícideos, confrontamo-nos, com os números de mulheres já casadas assassinadas na Índia nos últimos anos, pelo marido ou respectiva família (muitas vezes com a conivência da sogra) devido a questões de dote.


Segundo Coomaraswamy, entre 1991 e 1993 registaram-se 11 259 destes assassínios. Outro dado é fornecido pela UNICEF de 1997, segundo o qual são assassinadas mais de 5000 mulheres indianas por ano por aqueles motivos. Acrescenta que são muito poucos os arguidos por este tipo de assassínio.


Do livro de Ana Vicente - Os Poderes das Mulheres Os Poderes dos Homens

A Drª. Radhika Coomaraswamy está envolvida na defesa dos direitos da mulher no mundo e tem desenvolvido várias acções no sentido de consciencializar a opinião pública mundial dessa realidade.


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