A poesia poderosa -por vezes demolidora, e a capacidade de osmose com todas as manifestaçoes de vida, ainda que aparentemente diferentes, que transparecem em Guerra Junqueiro, desde muito cedo me conquistaram.
Permanecem vivos na minha memória os longos serões com o meu Pai, sobre poesia e literatura em que grandes autores portugueses e estrangeiros desfilavam perante os meus encantados 6 e mais anos.
Penso que Guerra junqueiro, se vivo no contexto actual, seria um defensor dos direitos animais!
[...]
E os dois bois enormes, colossais, fleumáticos,
Na aleluia imensa, triunfal, da aurora,
Vão como bondosos monstros enigmáticos,
Almas por ventura d’ermitões extáticos,
Ruminando bíblias pelos campos fora!...
[...]
Oh, os bois enormes, mansos como arminhos,
Meditando estranhas, incubas visões!...
Pousam-lhes nas hastes, vede, os passarinhos,
E por sobre os longos, tórridos caminhos
Dos seus olhos caem bênçãos e perdões...
Chorarão o velho castanheiro ingente,
Sob o qual dormiram sestas estivais?
Almas do arvoredo, o seu olhar plangente
Saberá acaso misteriosamente
Traduzir as línguas em que vós falais?!...
Castanheiro morto! que é da vida estranha
Que no ovário exíguo duma flor nasceu,
E criou raízes, e se fez tamanha,
Que trezentos anos sobre uma montanha
Seus trezentos braços de colosso ergueu?!...
Onde a alma, origem dessas formas belas?
Em tão várias formas que sonhou dizer?
Qual a ideia, ó alma, convertida nelas?
E desfeito o encanto, que nos não revelas,
Que aparências novas tomará teu ser?...
Préstito fúnebre-Guerra Junqueiro
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