Isabel Allende
Agora voltada para o segmento de leitores juvenis, Isabel Allende produz a sequência de A Cidade dos Deuses Selvagens: O Reino do Dragão de Ouro, continuação das aventuras com a intrépida avó Kate e o par adolescente Alexander e Nadia, passada nos Himalaias, com a habitual presença de conceitos espiritualistas e também alguns ensinamentos da filosofia Budista.
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"O príncipe de meia estatura e magro, contrastava com o tamanho de Tensing, que era oriundo da região oriental do Tibete, onde as pessoas são muito altas. O lama media mais de dois metros de altura e tinha passado a sua existência igualmente dedicado à prática espiritual e ao exercício físico. Era um gigante com músculos de halterofilista.Perdoa-me se fui demasiado brusco, Dil Bahadur. Possivelmente em vidas anteriores fui um guerreiro cruel – disse Tensing, em tom de desculpa, na quinta vez que derrubou o seu aluno.
Possivelmente em vidas anteriores, eu fui uma frágil donzela – replicou Dil Bahadur, ofegante e estatelado no chão.
Talvez fosse conveniente que não tentasses dominar o teu corpo com a mente. Deves ser como o tigre dos Himalaias , puro instinto e determinação… - -sugeriu o lama.
- A tempestade arranca do solo o forte carvalho, mas não o junco porque este se dobra. Não avalies a minha força, mas as minhas fraquezas.
- Talvez o meu mestre não tenha fraquezas - disse Dil Bahadur sorrindo e assumindo a atitude de defesa.
- A minha força também é a minha fraqueza, Dil Bahadur. Deves usá-la contra mim.
Segundos depois cento e cinquenta quilos de músculos e ossos voavam pelo ar em direcção ao príncipe. Desta vez no entanto Dil Bahadur saiu ao encontro da massa que lhe caía em cima com a graça de um bailarino. No instante em que os dois corpos se tocaram, rodou um pouco para a esquerda, esquivando o peso de Tensing, que caiu no chão, rolando com habilidade sobre um ombro e um dos lados. Imediatamente se pôs de pé com um salto formidável e voltou ao ataque. […]
- Possivelmente Dil Bahadur foi uma donzela guerreira em vidas passadas – disse Tensing, pondo-se de pé bastante satisfeito, e cumprimentado o seu aluno com uma profunda inclinação de cabeça.
- Talvez o meu mestre se tenha esquecido das virtudes do junco – disse o jovem sorrindo e cumprimentando também
Nesse momento uma sombra projectou-se no chão e ambos ergueram os olhos: sobre as suas cabeças voava em círculos o mesmo pássaro branco que tinham visto horas antes.
- Notas alguma coisa estranha naquela águia? – perguntou o lama.
- Talvez me falhe a vista, mestre, mas não lhe vejo a aura.
- Eu também não…
- O que significa isso? – perguntou o jovem.
- Diz-me tu o que significa, Dil Bahadur.
- Se não conseguimos vê-la é porque talvez não a tenha, mestre.
- Essa é uma conclusão muito sábia – troçou o lama.
- Como é possível não ter uma aura?
- Possivelmente é uma projecção mental – sugeriu Tensing.
Os dois fecharam os olhos e abriram a mente e o coração para receber a energia da poderosa ave que girava por cima das suas cabeças. Durante vários minutos permaneceram assim. […]"
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