Wednesday, May 04, 2005

Souad


Vi recentemente uma pequena reportagem impressionante sobre Souad, uma mulher Cisjordana.
Uma história de terror multiplicada por muitas outras, milhares, anónimas…
Uma jovem Cisjordana crescendo num pais onde ser do sexo feminino é igual a não ter direito aos mais elementares direitos humanos.
Adolescente e grávida, Souad encontra no ambiente familiar os maiores algozes, o cunhado é o executor da sentença: regada com gasolina e imolada pelo fogo pela “vergonha” que trouxe à família…
Sobrevivente apesar de tudo, e hospitalizada, Souad é ainda vítima de tentativa de assassinato por parte da própria mãe, no hospital .

Esta história traz a público a questão dos “crimes de honra” praticados na Cisjordania em que os assassinos são protegidos pela tradição e pela comunidade

Com cicatrizes no corpo e alma, Souad é resgatada de uma vida de maus tratos por uma organização internacional e trazida para a Europa
A coisa que mais me impressionou a meio de tanta barbaridade foi a desconstrução da auto estima de Souad a ponto de após a recuperação a maior preocupação dela era a possibilidade de não vir a agradar a nenhum homem e não casar…
Aterrador como uma nação pode destruir com suas ideologias a integridade e autonomia num ser humano que teve o azar de nascer por lá…
Poderia ser a dor da separação do filho (que foi para adopção), pelos maus tratos familiares ou até pela sua dignidade ignorada… mas toda a ansiedade de Souad ia para a possibilidade de não casar: suprema vergonha num país em que é dado adquirido para a esmagadora maioria das mulheres a sua não-existencia como seres pensantes, autónomos, suficientes, actuantes como co-criadores da realidade social, com capacidade de confronto e intervenção na realidade pessoal, emocional e colectiva, independentemente de a quererem vivenciar a dois ou não .

Souad acabou casando como tanto queria e teve mais filhos; mais tarde reencontrou-se com o primeiro filho, entretanto adoptado por uma família.
Tem uma actividade profissional e só não pode pensar em reatar relacionamento com a família de origem

Para ler
Autoras muçulmanas falam na primeira pessoa sobre a realidade no seu país
*

2 comments:

  1. Tenho uma enorme dificuldade em compreender e aceitar a desigualdade de direitos, apesar de reconhecer o direito à diferença cultural , desde que tal não signifique/represente (como é o caso) uma relação de submissão absoluta e quase escravatura.

    O que mais me preocupa é que na origem deste problema esteja o fundamentalismo religioso, tal como está presente em outros conhecidos grandes problemas da sociedade actual.

    ReplyDelete
  2. Karlos Alberto, ainda bem que voltou do retiro sabatico (rss)
    Em relaçao ao que comenta, a mim custa-me a acreditar como ha milhoes de seres a viver na base do dogmatismo, do radicalismo, sem dar espaço a outros sentires... A verdade é que ha... e as religioes são um optimo pretexto para exercer poder, sempre foram...

    ReplyDelete