Friday, September 09, 2005

Congo: verdades alucinantes


Fotografias de Randy Olson

Reportagem notável na National Geographic deste mês: realidades quase impossíveis, cenários surpreendentes e condutas humanas cheias de contrastes é o que reserva a leitura de Pigmeus de Ituri de Paul Salopek.

As florestas tropicais são lugares inundados de luz, o que causa alguma surpresa porque um sem--fim de livros e filmes nos fizeram crer o contrário. O mundo que existe sob as copas da floresta não é obscuro, nem sombrio, nem monocromático. Brilha com uma luz aparentemente de origem extraterrestre, tão improvável que possui uma qualidade onírica, da mesma forma que, nos sonhos, as cores parecem tangíveis, produzem sons ou fazem parar o tempo.
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Poucos países do mundo “morreram na praia” de maneira tão desastrosa e regredindo de forma tão absoluta a um estado de ruína pré-industrial, como o Congo. Outrora denominado Zaire, o país foi explorado até à medula ao longo das três décadas de governo do ditador Mobutu Sese Seko, e foi depois estripado durante mais seis anos de anarquia e guerra civil. Nos dias que correm, o Congo é o colosso destruído da África Central. É um país quase do tamanho da Europa Ocidental, aparentemente levado como um sonâmbulo para um sonho febril. Em nenhum outro local a decadência é tão surreal como nas estradas que sulcam o Leste selvagem do país, a imensa selva onde os combates nunca foram interrompidos.
[...]
...no rio Congo, partilhei uma canoa escavada num tronco de árvore e que deixava passar a água com um linguista que, durante deliciosas horas a fio, me recitou as obras do poeta Robert Frost. Sempre que os guerrilheiros saltavam a bordo para nos roubar, golpeava-os com um guarda-chuva multicolor, lamentando-se com indignação, “Mas eu sou um professor!” Que futuro terá a região oriental do Congo? A África é o continente mais imprevisível do mundo. Contudo, nenhum país africano se confronta com um futuro tão fortuito como a impropriamente chamada República Democrática do Congo. Voltará a guerra para dividir o Congo em estados mais pequenos e antagónicos? Possivelmente. Poderá a frágil mas esperançosa paz perdurar, permitindo que o Congo, possa, enfim, aproveitar as suas fabulosas riquezas? Presumivelmente. As eleições aprazadas para Junho de 2005, o primeiro sufrágio verdadeiramente democrático desde a independência da Bélgica, em 1960, foram adiadas pelo menos por seis meses. Os especialistas da ONU alertam que mais de cem mil rebeldes, bandidos, membros de milícias, soldados e vários outros assassinos estão ainda por desarmar. E o estrondo político e étnico ao longo do rifte não irá provavelmente parar com uma mera eleição presidencial. Por isso, com paciência assombrosa e bom humor, milhões de pessoas retêm a respiração e aguardam. Acordando no seu reino de árvores, os pigmeus espreitam cuidadosamente a penumbra da manhã.
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3 comments:

  1. Anonymous9:18:00 am

    Oi, Marian. Gostei do blog e esse post sobre o Congo foi bem revelador. E triste também, como a história da humanidade.
    Em nome da sua expressiva sensibilidade, eu gostaria de saber a data do seu nascimento ou aniversário, ok?
    Aguardo resposta.
    Abraços

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  2. Oi Sheila!
    Voce não deixou contacto. Se quiser pode envia-lo para jera1@europe.com e terá a sua resposta
    Bjs.

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  3. Anonymous9:32:00 pm

    Desculpe, Marian. Realmente ñ coloquei no espaço, pensando q era só p/www e acabei esquecendo...
    Se este espaço abaixo é sómente para site, então este é o meu contato:
    sheilabernardo2005@hotmail.com
    Bjs

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