Monday, September 12, 2005

Reler


Um livro exigente, múltiplo em temas, fruto da profunda formação técnica da autora, do seu espírito irreverente e inteligência agressiva: um cocktail bem sucedido que me deu prazer reler no fim de semana.

Tema de fundo, o terramoto de Lisboa de 1755.

Acho que um dos muitos problemas do CM é que o senhor não faz qualquer ideia do que é que a palavra incondicionalmente quer dizer. Talvez a culpa não seja dele.Talvez seja só por ser um homem, e todos os homens carregam esta cruz. É aquele pobre cromossoma Y. É muito mais pequenino que o X. De maneira que eles são feitos de menos peças que nós, e por conseguinte ficam trancados dentro da sina do rei do xadrez, que só pode andar uma casa de cada vez. Os homens não dão saltos. E por isso têm sempre que estar desconfiados de qualquer coisa, e têm sempre que ter reservas sobre todas as coisas. Não conseguem render-se. Não sabem o que isso é. Coitados.Nem imaginam o que andam a perder.
[...]
Aqui o meu querido MT havia de argumentar que eu não estou qualificada para discutir estas coisas porque não pertenço a nenhuma das categorias em análise. É evidente que eu não sou um homem, mas ele diz que uma mulher é que eu tambem não sou de certeza. Ele gosta de dizer que eu sou um extraterrestre que aterrou aqui, não própriamente por engano, mas antes por obra de um grande plano cósmico que de vez em quando manda criaturas desviantes à Terra para desinquietarem os espíritos e manterem acesa a chama da cultura. É o que ele diz. Acho que é um elogio.
*

In Os mensageiros Secundários - Clara Pinto Correia

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