Monday, September 19, 2005

Tintin, quem diria!



Circulei e voltei a circular
Não tinha encontrado o que queria e não desistia de procurar.
Não sabia bem que livro escolher, podia ser romance, podia ser ensaio, podia ser outra coisa qualquer.
Apenas sabia o que não queria e nenhum dos que tinha pegado até então me apetecia levar para casa.

No último momento, e não é sempre assim?! encontrei-o. Um livro capaz de me deliciar, e de caminho ainda me surpreender agradavelmente e, porque não, ensinar-me umas coisinhas...

Tintin no Psicanalista, escrito pelo médico Serge Tisseron, trouxe-me de volta os meus especialmente solares anos de infância: muito simplesmente eu era uma consumidora-devoradora de B.D. aí pelos meus 6-14 anos, ininterruptamente, embora com presença de outras leituras (algumas demasiado) clássicas para a idade...

Tintin, Asterix, Michel Vaillant, Corto Maltese, tantos outros/as...

Não poderia imaginar reencontrar Tintin numa interpretação que desvenda as suas inocentes aventuras como um muito bem orquestrado exorcismo cheio de sincronicidades, dos fantasmas psicológicos do seu autor, Hergé.

Serge Tisseron consegue a proeza de abordar a questão sem nunca perder a frescura e a leveza.

Qual o segredo que se esconde por detrás do rosto inexpressivo eternamente adolescente de Tintin? Ou antes, que podem ensinar-nos as imprecações do capitão Haddock, as extravagâncias de Castafiore, as distracções do Professor Tournesol sobre o segredo que Hergé escondia a si próprio? Serge Tisseron tomou aqui as aventuras de Tintin não como uma colecção arbitrária de álbuns independentes, mas como um enorme fresco que fala duma coisa diferente do que narra, o que é preciso decifrar. Um inquérito quase policial, fértil em achados e sobressaltos conduzirá primeiramente o leitor de descoberta sobre a personalidade tão atraente de Hergé; mas igualmente sobre o gesto gráfico e o trabalho criador quanto este combina o desenho e o texto. Serge Tisseron é psicanalista e médico.
(Contra-capa do livro. Edição Bertrand)

Tudo começa por um segredo. Segredo transmitido de geração em geração sem que algum dos seus sucessivos "portadores" dele pudesse ter consciência. Mas eis um descendente subitamente perseguido por um estranho, herdado do inconsciente dos seus próprios pais, que o herdaram, por seu turno do inconsciente de seus pais, segundo o que Abraham designa por a "lei da ignorância"
(capítulo Haddock e o fantasma do cavaleiro)
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