Monday, July 06, 2009

como te entendo, Johnny Depp!


[...] Ora bem, génios já são, por si, anormais e dados a almas eremitas. Mas o Johnny Depp está mesmo a passar-se. Casou com uma francesa, sinal vermelho de que há por ali espírito do contra. Faz filmes com o Tim Burton e com o Terry Gilliam, quer dizer, coisas tétricas ou cheias de drogas endeusadas pelo Hunter Thompson. Agora comprou uma ilha nas Antilhas e, diz-se, vai receber 60 milhões de dólares pelo Piratas das Caríbas 4, que a Disney já tem em produção. Muito dinheiro, muita fama e muita necessidade de isolamento não dão, regra geral, bom resultado. Vejam o caso do John Foster Kane. Ou do Marlon Brando, com os últimos anos da vida ocupados a gerir filhos homicidas ou suicidas. Fica o pedido: Johnny, não enlouqueças tão cedo.
Resposta dele: "Já está a acontecer", disse o actor em relação à possibilidade de se transformar num shut-in germofóbico tipo Howard Hughes ou num exilado civilizacional em estilo Mosquito Coast. Mas, socorro!, será que não tem medo de que essa tendência anti-social se transforme numa patologia? "Não estou preocupado. Esse tipo de patologia não me incomoda. A sério que não. Se a escolha que me é dada resume-se a: ter de passar a vida a ser observado ou ter de viver sentado numa cadeira num quarto às escuras, claro que vou preferir o quarto às escuras. A definição daquilo que é normal tem-se expandido. Não é o que era".
what?!?

há notícias que me dão vontade de fazer umas malinhas e ir passar uma belissíma temporada a uma ilha maravilhosamente deserta.
mas talvez seja eu que não tenha sentido de humor, porque, ha,ha,ha, afinal, qual é o mal?!
Há, de facto, muito a dizer sobre este filme mas, para não fugir à minha rota lustrosa feita de baba de lesma, a única coisa que quero saber é como é que os pais do bebé deixaram que o filho fosse usado nas cenas da masturbação, de facto um dos momentos altos desta ressaca debochante acompanhada de colapso moral. [...] sentei-me a escutar o realizador Todd Phillips em pleno Caeser's Palace. "A ideia foi do Zach. Tinhamos muitos bonecos à nossa disposição, para podermos ensaiar as cenas do bebé ou para podermos fingir que havia ali um bebé a sério. Um dia o Zach está a brincar com um dos bonecos de borracha, chega-se ao pé de mim e, com a mão dele a guiar a mão do boneco, finge que tem ali um filho bebé a masturbar-se. Eu, que continuo a ter 14 anos na alma e no coração, escangalho-me a rir. Digo logo que, no do dia seguinte, vou meter essa ideia no filme. [...] Para a cena não iamos usar um boneco mas um bebé real. Era preciso autorização. Resolvi logo que, de todos os bebés disponíveis, ia escolher aquele que tinha um pai fã do meu filme Old School. Aliciei-o com a ideia de o filho, apesar de bastante jovem, poder fazer parte de uma comédia tão histórica como o Old School. Que cenas gostava o pai da criança quando via o Old School? Pois, nem mais! O filho podia agora fazer parte de uma cena igualmente hilariante. Apesar disto o pai disse logo que nem pensar, que mostrar o filho recem nascido naquela vergonha nunca iria ser aceite pela esposa. Assegurei que a esposa não tinha de estar presente a esse dia das filmagens. Ficava tudo entre nós. O pai acedeu. No dia seguinte, estavamos a fazer a cena à revelia da mãe do bebé mas ela aparece. Foi na piscina do Caeser's Palace. Aparece e põe-se logo aos gritos com o marido. Quando vem defrontar-me, não dou parte fraca. Digo-lhe que sim, que falara com o marido mas que tinha presumido que o acordo era comum. 'O quê, ele não obteve a sua aprovação? Que estranho? Julguei que era assim que vocês funcionavam'. Mandei-a mesmo pelo rio abaixo, sem remos e em direcção às cataratas", disse-lhe Phillips, confirmando que Hollywoold continua, sorte nossa, a não ter piedade dos bons costumes. "Sei hoje que a mãe do bebé gosta mesmo do filme. Está felicíssima com o resultado final". Claro que está. Hollywood adora finais felizes. Alem disso, quando a cena mete masturbação, regra geral é que se registe um grande prazer a acompanhar as palavras The End.
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no mesmo jornal,

os delírios em cima da imagem criada e vendável...

mas... 0% de atenção ao ser humano atrás da imagem.

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what ?!? II

Milk of Amnesia
O propofol é uma substância delicada. Dos estagiários hospitalares que se tornaram dependentes, 40% morreram de overdose. Há casos de médicos que passaram a pescar embalagens nos caixotes do lixo da secção de cirurgia só para poderem aproveitar as últimas gotas. Um bocadinho coloca uma pessoa a dormir, mas um nadinha mais provoca facilmente uma paragem total do relógio coronário.
É usado na veterinária, nas salas de operação, e nunca, mas nunca, está disponível ao público. Controladíssima, é uma substância capaz de parar o coração se for tomada em excesso. Branca, brilhante, parece-se com leite.
Os anestesistas gostam de brincar com o poder daquela fusão química. Referem-se ao propofol com a expressão Milk of Amnesia. A evasão corpórea é total, como todos aqueles que já foram operados sabem. Não se trata de apenas estancar a dor, seja ela física ou existencial. A remissão para uma vida paralela é instantânea. O cérebro não fica apenas adormecido. Fica suspenso e vai viver outra vida melhor.

Curiosamente, num estudo publicado recentemente sobre o uso daquela substância entre a classe anestesista, os números apontaram numa direcção interessante. A maioria dos dependentes, sobretudo no escalão feminino, tinha sofrido traumas quando criança, por vezes violações, por vezes outros maus tratos físicos de natureza sexual. Para estes, o propofol vinha mesmo a calhar: tal como quando usado legalmente para anestesiar um paciente na sala de operações, o indivíduo necessitado injectava-se e ficava imediatamente inconsciente. Durante uns momentos era livre de flutuar para alem daquele corpo.
Omar S. Manejwala, médico que dirige o William J. Farley Center na Virgínia, um centro de recuperação e reabilitação que dá atenção especial aos casos de abuso de substâncias entre o pessoal médico, disse: "Um dos traços comuns das desordens psicológicas resultantes de um grande trauma é a hiperactividade maníaca. Há um esforço contínuo para bloquear mentalmente o que se passou".

De cura para as insónias, o fármaco evolui para cura de tudo o resto. Facilmente se torna indispensável. Manejwala reiterou a ligação entre um facto e outro. "Nunca vi uma ligação tão forte entre um medicamento e a possível incidência de trauma, sobretudo trauma de índole sexual. É realmente espantoso".
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(ao ler os comentários ao artigo encontrei um de alguem que se dá a conhecer como médica veterinária e retira algum brillho ao sensacionalismo fácil e excessivamente superlativo do artigo em favor do rigor técnico. Ainda bem, mas a questão de fundo para mim foi casos de abuso de substâncias entre o pessoal médico. Ok. Parece que quem chama a si a missão de curar corpos alheios tambem sucumbe à dor de viver no mundo.)
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imagem

pessoas... que mudam de opinião e comportamento com mais velocidade que a lua muda de fase ...

Não foi assim há tanto tempo que os jovens urbanos, sobretudo os negros, só ouviam hip hop enquanto iam ao volante. Janelas abertas, carro implodindo de potência stereo e muito hip hop para acordar a vizinhança. Yo, testosterona! Wassup? Não havia alma que se atrevesse a ouvir Michael Jackson, o magro, o branco, o fraco, o antigo. Hoje, é só ele quem canta em cada viatura que passa aos gritos. Em cada carro, uma homenagem. Los Angeles rende-se à despedida do invencível com hinos a 100 à hora. De facto, um thriller.

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