É espantosa a quantidade de ninharias que guardamos. As nossas casa e vidas guardam-nas constantemente. Dá-se o mesmo com a mente. As bagatelas estão sempre a intrometerem-se na nossa mente. Tente concentrar-se no silêncio um minuto e verá como é difícil. Os pensamentos fogem continuamente de e para o cérebro - os pensamentos aleatórios entram no nosso consciente a partir de vários compartimentos da base de dados da memória, como se o cérebro fosse uma máquina de funcionamento automático. Com a casa é a mesma coisa, em todos os cantos de todas as divisões há objectos aleatórios - de toda a espécie. pequenos, grandes, divertidos, úteis, ninharias - que incomodam e causão tensão. As nossas salas desarrumadas, armários muito cheios e secretárias empilhadas podem causar muito stresse. Normalmente, não reparamos nisso, mas depois de tentarmos passar para outra, ou de essa ideia se apoderar de nós, as ninharias da nossa vida começam a dominar-nos - e, com frequencia distraem e irritam-nos. Cria-se barafunda material e imaterial na nossa mente.
Decidir se algo é ou não uma bagatela é uma decisão inteiramente subjectiva. O mais prezado dos bens de uma pessoa é uma ninharia para outra
[...]
Tudo aquilo que lhe transmite alegria, faz rir e inspira - seja por que razão - é precioso para si, visto que lhe confere energia nutriente. Rodear-se de coisas que adora e têm signficado para si fortalecê-la-á. Isto porque a energia que vibra à volta dessas coisas está sincronizada com a sua.
[...] quando estiver cansada de qualquer coisa - um livro, um jornal, um saco, uma peça de roupa, um objecto decorativo, um quadro, uma cortina, ou qualquer outra coisa, seja esta grande ou pequena, sem valor ou preciosa, quando ela tiver perdido o seu significado especial para si ou perdido o seu brilho... deite-a fora, venda-a ou dê-a!
Eu entendi-o quando me retirei pela primeira vez ao mosteiro de Kopan, em Katmandu. Decidi que precisava de alguma espiritualidade na minha vida e inscrevi-me num curso semestral de meditação. O quarto que me atribuiram era tão básico que quase chorei. Tinha uma cama, uma mesa e uma cadeira. Nada possuía para decoração, nenhum perfume, cosmético, rádio ou livro, era permitido - absolutamente nada. Tudo o que eu tinha era paredes nuas, as condições mínimas e a minha mente. No entanto, para mim, esse mês foi a experiência que mais mudou a minha vida. Obrigada a operar no modo de sobrevivência, virei-me para dentro e, ajudada pelos monges e monjas de Kopan, descobri o mundo da minha mente. Com nada que me distraísse, desenvolvi uma crescente consciência do meu ambiente. Eu respirava o ar intensamente frio e limpo [...]
A medida que sintonizei a mente em mim mesma, comecei a sanear as impurezas, opressões e pensamentos negativos da minha mente. O processo foi doloroso e catártico, como se estivesse a lavar roupa suja.
Quando nos pomos a esfregar pela primeira vez, toda a sujidade sai e enlameia a agua, por isso, sentimos a dor, o sofrimento e o eu a resistir - ficamos doentes, cedemos à auto comiseração e só queremos desistir. Todavia, a espiritualidade desse lugar e o curso de meditação ajuda-nos a lidar com isso. Por isso aguentamos aquilo, até a água suja lentamente clarear. A nossa mente desenvolve uma grande uma grande sensibilidade à energia do tempo e do espaço.
Esse foi o maior desatravancamento que alguma vez fiz à minha mente e à minha vida. O resultado foi que me sentia mais leve e mais viva. Agora volto a Kopan pelo menos uma vez por ano
(168 Maneiras de Desimpedir a sua Casa - Lillian Too)
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