Friday, August 11, 2006

Li e gostei demais...


Gostei da paz e sabedoria desse livro belo e simples...

[Maria Coriel nasceu em Lisboa e vive na serra algarvia. É professora de Português e Latim e ultima agora um novo livro: O Graal e a Rosa]


Era o tempo das caravelas cor de canela e dos sonhos em flor. Corria o cheiro do ouro, das pedras, do gengibre e da malagueta. Era o tempo de todas as esperanças e de todas as riquezas.
* * *
A memória continuou a embalá-la até a infância. Reviu a pequena cabana. Regressou aos passeios, às estórias forjadas, ao doce embalar da mãe, à sua morte.
Na cabana sombria, sobre a terra nua, o olhar de Ara anunciou para breve a passagem para o mundo da luz daquela figura atormentada pela tosse e pelas febres.
Numa noite de quarto minguante, partiu sem mágoa, tranquila como uma folha de Outono descendo o rio manso. Certa de que o curso de água viva que a levava fluiria para sempre [...]
Ara tinha explicado muitas vezes à jovem que o choro devia ser sereno, tal como o silêncio que envolve o espírito do vento que vinha buscar a alma moribunda da mãe. Ele não conseguiria caminhar no barulho e na angústia. Mas todas as lições se esvaíram quando as pálpebras de Mulamba cairam no sono profundo. Gritou. Arrancaram-lhe a raiz mais funda. Ficou suspensa como um ramo sem tronco. [...]
Saíram as três. Deixaram o espírito do vento preparar a alma para a partida. Ara mandou a jovem que morava com elas, chamar as outras mulheres.

* * *
Nada do que vivemos está fora do caminho. Tudo faz parte dele e nele se integra. Vive o que a vida te oferece. Num dia maduro, descobrirás que o amor não faz parte do caminho, é o próprio caminho.

Maria Coriel - As Filhas da Lua aqui*
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